Pensa numa obra de arte negligenciada - Entre Abelhas
- D. C. Blackwell
- 18 de mar. de 2021
- 2 min de leitura
“Eu me sinto meio que uma abelha de outra colmeia. Que se perdeu e teve que parar aqui, pra não morrer, pra não sumir”
Já se sentiu assim?
Bruno é um homem egoísta. Tão egoísta que não foi capaz de perceber e reconhecer os erros que levaram ao fim de seu casamento, o qual ele julgava perfeito. Abstraído por não ser capaz de ver a si mesmo e suas atitudes, Bruno passa boa parte do longa sem entender por que seu casamento acabou, cismando com a compra de uma cadeira vermelha que, para ele, foi a causadora do pedido de divórcio de sua esposa. Dia após dia ele afunda cada vez mais depressão, incapaz de reconhecer as próprias emoções e erros ao mesmo tempo em que afasta-se de tudo e todos gradativamente. Essa devastadora melancolia que ele sente deve-se ao fato de que ele está tão absorto em si mesmo que torna-se impossível para qualquer um alcançá-lo e estender uma mão amiga.

Ao longo da trama, ele recebe a constante ajuda de seu melhor amigo e sua mãe, os quais ele trata com displicência e pouco respeito, como se eles fossem mais um estorvo na vida dele. Assim, ele vai sumindo com as pessoas. Primeiro, desaparecem aquelas que ele não nota no dia-a-dia, pessoas completamente irrelevantes e invisíveis para qualquer um de nós, na verdade. Ele começa, então, a fechar-se em seu próprio mundo, encolhendo, afundando no problema por não entender a sua solução. Esta, por sua vez, demora até o final do filme para chegar porque ele não consegue reconhecer seus erros. Para ele, tudo estava bem até que não estava mais.
Em uma hipérbole, os desaparecimentos representam o que acontece quando não nos importamos com alguém, ou quando deixamos as pessoas de lado por conta de outras coisas que valorizamos mais que elas. “Com o tempo, todo mundo some”, afirma Bruno, já derrotado por sua condição, pois é assim mesmo que acontece quando procuramos alguém por mero interesse momentâneo, apenas para nos servir de alguma forma. Bruno passou o filme todo correndo atrás de pessoas que eram irrelevantes para ele, inclusive sua mãe e melhor amigo, apenas porque precisava de ajuda. A verdade é que ele sumiu para as pessoas também: pouco a pouco foi mostrando às pessoas quem ele realmente era, afastando todos ao seu redor com seu egocentrismo monstruoso.

A Solidão de Bruno começa por atitudes que ele tomou muito antes da trama começar em tela. E isto levou à perda da conexão emocional que ele tinha com as pessoas à sua volta, até que perdesse a empatia por absolutamente todo mundo. Bem, quase todo mundo. Prestes a desistir, Bruno consegue reconhecer que sempre se sentiu em meio a estranhos. Ele chega a colocar a cadeira vermelha no lixo, marcando o fim de sua obsessão com o antigo relacionamento e abrindo-se para novas oportunidades, novas conexões. É nesse momento que ele nota que ainda existe uma pessoa com quem ele manteve vínculo emocional: a garota de programa que se apaixonou por ele. Faminto de empatia, Bruno agora está livre das pessoas que o distraíam de si mesmo. Este é um novo começo, uma nova chance para ele. Agora que ele só pode enxergar a si mesmo, poderá começar a aprender a enxergar os outros.
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