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Madame Bovary

  • Foto do escritor: Gisele Alvares Gonçalves
    Gisele Alvares Gonçalves
  • 2 de out. de 2020
  • 6 min de leitura

Atualizado: 6 de nov. de 2020

Olá, damas e cavalheiros, tudo bem com vocês? Hoje eu vou falar sobre um filme que só descobri recentemente, mas que me pegou de jeito pela produção maravilhosa e pelo roteiro espetacular. Claro, não poderia ser outro a não ser Madame Bovary, de 2014, com a Mia Wasikowska no papel principal. Bem, por onde começar a elogiar este longa? Dirigido por Sophie Barthes, Madame Bovary tem uma fotografia intimista e fria, com um começo de história quase que completamente sem falas! Ela conta sobre a educação de Emma pelas freiras, seu casamento, despedida do pai e chegada na nova casa em silêncio, com apenas o discurso do pai da protagonista na festa de casório a quebrar a quietude. Claro, nestes momentos a música ajuda (e muito!), tendo uma melodia de piano pungente e dramática ao fundo. Com tudo isso, não tenho palavras pra dizer o quanto eu fiquei impressionada com a apresentação do filme.


Também o figurino do longa chama muito a atenção, tendo este departamento sido encarregado a Christian Gasc e Valérie Ranchoux (os mesmos encarregados por Adeus, Minha Rainha). É incrível como eles conseguiram apagar a Emma Bovary no começo do filme, e conforme a personagem vai se libertando de suas amarras, ela vai exibindo cores vivas e tecidos sofisticados, em um desfile de modelos exuberantes dignos de um filme de rainha! As cores de Emma, então, contrastam com a paisagem fria, e com seu próprio humor depressivo… Ela exibe para o mundo, assim, a alegria que ela não possui.


Tirando esses detalhes mais técnicos, entramos no mundo psicológico da trama do filme. Afinal, por que Emma acabou por se desviar tanto de seu propósito de ser uma esposa fiel, o que a fez procurar em outros homens, e no luxo descabido, uma escapatória de sua própria vida? Seria o tédio? Seria a depressão? E você, já parou para pensar o quão satisfeito você está com a própria vida, e com você mesmo, e o que estaria disposto a gastar para encontrar maiores prazeres mundanos? Aqui não falo apenas de sexo, obviamente, mas de luxos em geral: seja aquele video-game caríssimo que você quer comprar, ou aquela roupa de marca que acabou de ser lançada.


Você já reparou quantas mulheres ficam insatisfeitas com a própria aparência? Se é loira, pinta o cabelo de preto, e se é morena, quer ser loira ou ruiva… Parece que ninguém quer ser o que se é! E você, está satisfeito com a própria aparência? Estaria disposto a ser mais natural, assumir a bela genética que seus pais lhe deram? E quanto ao amor, está satisfeito com o seu parceiro (ou parceira), ou preferia que ele (ou ela) fosse mais magro, mais sarado, mais diplomado? Talvez o que te incomoda seja o seu trabalho, com aquele chefe mandão que parece nunca querer te compreender, ou o barulho que os vizinhos fazem todo o fim de semana, que quase te enlouquece e te faz querer se mudar de casa o mais rápido o possível. Fala sério… Nós, seres humanos, estamos em constante infelicidade com o que possuímos, e queremos sempre ter mais ou sermos mais.



Não me entenda mal: ter ambições não é necessariamente ruim, o problema é quando você não sabe lidar com este sentimento, como Emma claramente não soube. Ela gastou mais dinheiro do que possuía, caindo em uma dívida que não poderia ser perdoada. Ela falhou em contar ao seu marido o que a incomodava, e ao calar sobre suas vontades de viajar, conhecer o mundo e curtir espetáculos culturais, acabou encontrando consolo na emoção do perigo, tornando-se infiel não apenas com um homem, mas dois.


Sim, este é outro erro que geralmente cometemos, e eu mesma incorri nele em vários relacionamentos que eu tive. A gente sempre acaba por achar que não apenas nosso sofrimento é óbvio, mas que a fonte dele também o é, e assim agimos como se nosso parceiro tivesse bola de cristal, frustrando-nos quando ele parece ignorar aquilo que nos incomoda. Se Emma tivesse conversado com o marido, explicado o quanto novos horizontes eram importantes para ela, duvido que ele se absteria de procurar fazê-la feliz! Afinal, por que ela haveria de não estar contente com o marido que possuía? Ele era um homem bem apessoado, honrado, trabalhador e que amava muito ela, e apesar de não compartilhar da sede de novas aventuras que Emma possuía, ele poderia fazer-lhe a vontade tanto quanto o dinheiro permitisse.


Agora, ajudaria bastante também se o Charles Bovary tivesse mais senso de dignidade própria e soubesse dizer não para a Emma, principalmente em relação ao dinheiro. Poxa, ele sabia que a mulher estava gastando os topetes com futilidades (não digo que ter futilidades não seja uma coisa boa, mas quando extravasa a nossa capacidade financeira acaba por se tornar um problemão), por que não conversou com ela e pediu para que maneirasse nos gastos? Eles poderiam ter entrado em um acordo sobre o quanto Emma poderia gastar por mês, ao invés de simplesmente deixar a situação sair do controle!


Outra coisa que teria ajudado na vida marital entre os dois teria sido ele interessar-se mais em aprender sobre o corpo feminino, visto que claramente ele não sabia dar prazer à sua esposa. Era muito óbvio que ela tinha mais interesse sexual por qualquer outro homem do que por seu marido, e por que? O cara era quase mecânico na hora do sexo! Se ele soubesse seduzir ela, se soubesse conquistá-la e deixá-la à vontade, aposto que a vida deles teria melhorado cem por cento, e ela não teria procurado consolo com aqueles amantes de meia-tigela. Não, eu não acho que traição seja uma coisa justificável, só estou apontando coisas que teriam feito a vida deles ser muito melhor.


Pena que o Charles também não era muito perceptivo, ou ele teria notado que a mulher estava deprimida, ou seja: precisando de muitos estímulos para ter pouco retorno emocional. Se ele notasse isso, talvez tivesse tomado as rédeas da situação para ajudá-la a encontrar sentido na vida, visto que ela não estava conseguindo fazer isso por si mesma. Talvez, se Emma descobrisse algum talento na arte, ou mesmo amor por jardinagem, ou qualquer coisa que possa se tornar um grande objetivo, ela não recorresse a casos amorosos. Ela precisava de uma paixão, intensa o suficiente para movê-la para além da vida conjugal, e para além dos prazeres momentâneos. Eis aí outro erro de muitas pessoas: achar que se pode viver apenas de prazeres. Assistir a um filme, ler um livro, jogar um video-game não faz de ninguém uma pessoa plena. Tudo isso é importante, claro… Mas sem um sentido maior de vida, um objetivo duradouro, nada parece valer a pena.


E, claro, não poderíamos deixar de falar na questão mais obvia de Emma, que foi casar-se com alguém que nunca vira antes. Esse era o hábito comum dessa época, pois se acreditava que o pai sabia melhor que a filha, porém não ter a liberdade de escolher o próprio esposo só poderia dar errado, realmente! Se casar por amor já é complicado, ter que desenvolver um sentimento à força para superar os problemas é quase impossível. Então, sim, parte do motivo que levou à traição não coube especificamente à Emma, mas à sociedade que empurrou um homem para ela chamar de esposo, e depois não permitia o divórcio. De novo, não estou justificando os erros da moça, mas encontrando as razões que a fizeram desviar do curso.


Agora, convenhamos: quanto mais desesperada e infeliz Emma se sentia, mais sem noção ela ficava. Chegar ao ponto de invadir o trabalho do amante, arriscando que ele fosse demitido, e ainda chamá-lo de egoísta por ele tentar manter a dignidade na frente dos colegas? Ela que era a egoísta, apoiando-se nele como se fosse uma bengala! Eu até acredito que, se ela não estivesse se sentindo tão profundamente miserável, não teria agido dessa forma… Ainda assim, deprimida ou não, a Emma não tinha esse direito.


Falando no León… Que atuação, senhoras e senhores! Confesso que não conhecia tanto assim do Ezra Miller antes desse filme, porém tirei o chapéu para o guri. Ele é tão incrível que faz com que nós, expectadores, entendamos por que a Emma não podia resistir a ele! Bem ao contrário do Logan Marshall-Green, não é mesmo? Nossa, esse ator deu um tom tão agressivo para o Marquis d’Andervilliers que a gente fica pensando “wtf? O que foi que a Emma viu nesse cara?”. Claro, este não se trata de um filme de romance, apesar de parecer… Se o fosse, a gafe ia ser ainda pior. Ainda assim, era extremamente necessário que o ator que interpretasse o Marquis fosse carismático e vivaz, duas coisas que o Logan não conseguiu emprestar ao personagem.


Claro, a atuação que mais chama a atenção no longa é da própria Mia Wasikowska, que emprestou à personagem uma doçura ingênua, um desespero elegante e um olhar perdido que muito combina com a personagem. Mia fez de Emma Bovary a vítima perfeita, uma mulher manipulada por sua infelicidade e incapaz de escapar do buraco que havia cavado para si mesma. Em outras palavras, estamos falando aqui de uma protagonista feminina fraca, que cede e que implora, que não tem controle nem sobre suas próprias ações, quem dirá sobre seus sentimentos. Ela deu à Emma o tom perfeito que a história requeria, fazendo do filme a obra prima que ele acabou se tornando.



Enfim, chegamos ao final dessa resenha! E aí, o que acharam do filme? Gostaram das considerações que foram apontadas nesta resenha? Comente aí abaixo se você concorda sobre a atuação do Logan Marshall-Green, e se gostou do Ezra Miller no papel de León Dupuis. Agora deixo um beijo e um queijo para vocês, e uma esperança de que possamos nos encontrar em resenhas futuras. Até a próxima!

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