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O século XIX em 7 filmes: figurinos, cultura e imersão na época

  • Foto do escritor: Gisele Alvares Gonçalves
    Gisele Alvares Gonçalves
  • 9 de set. de 2020
  • 11 min de leitura

Atualizado: 25 de mar. de 2021

Olá, damas e cavalheiros, tudo bem por aí? Começando aqui mais uma lista de indicação de filmes, e dessa vez vou falar especificamente com o povo que adora o século XIX. Fala sério, que século maravilhoso, não é mesmo? Tanto artista incrível nasceu nestes 100 anos, tanto cientista que revolucionou o mundo a partir de suas novas ideias (Darwin e Freud são apenas alguns deles)… Sem contar, é claro, as grandes revoluções industriais, que aceleraram a percepção do tempo com as novas invenções em relação a transportes, como o trem (já imaginou uma carta entregue a cavalo?).

Esse foi o tempo do leque e do xale, da bengala e da cartola, iniciando uma rotatividade na vestimenta que iria dar origem à moda como hoje nós a conhecemos! Sinceramente, eu considero que nós ainda somos fruto dessa época, afinal toda a nossa confiança na ciência e toda a nossa visão de mundo nasceu aí. Somos frutos, em resumo, da grande revolução burguesa que aconteceu neste período, que nos fez valorizar o homem pelo trabalho que ele exerce. E o que dizer da mulher? Gradativamente ela foi se tornando uma companheira, e não uma propriedade, passando até mesmo a escolher seu próprio marido (que até então não era possível). Além disso, temos grandes mulheres nesta época também, como a Jane Austen, que é lida e amada pelo público até hoje.


Mas chega de digressões sobre o século XIX… Vocês devem me perdoar esses lapsos, mas são ossos do ofício de historiadora falar sobre o passado. Se vocês quiserem saber mais, podem comentar aí abaixo que eu faço mais artigos sobre esse período. Por enquanto, no entanto, vamos para as indicações de filmes? Partiu!


A Batalha das Correntes

Sim, de novo essa indicação por aqui… E eu vou continuar a indicar este longa até vocês verem ele! Bom, resumidamente, o filme não é uma biografia do Thomas Edison, como muitos podem pensar antes de ver o trailer… Na verdade, ele foca na rivalidade entre o inventor da energia elétrica e George Westinghouse, um empresário que entrou neste ramo de negócios e roubou o parquinho de Thomas. É um filme dramático, com tensão do começo ao fim, com um elenco brilhante e uma direção fascinante. Sério, vocês deveriam conhecer.

O filme se passa entre 1880 e 1890, ou seja, já estamos aqui no período abarcado pela Belle Époque, chamada assim porque foi uma época muito boa (economicamente falando) para a Europa, e também uma época de grandes invenções. O figurino dos homens é bem interessante, e eu ousaria dizer bastante fiel, visto que, nesta época, a indumentária masculina se privou da vaidade que antes ostentava no século XVIII (sedas, rendas, bordados e até cores), tornando os homens os pinguins de trajes branco, preto e outras cores sóbrias que deram origem ao terno moderno. Já quanto ao traje feminino… Bem, eu noto algumas coisas fora de lugar. Por exemplo, o fato da Mary Edison usar decote dentro de casa, algo que era visto como impensável, visto que decotes só eram permitidos em bailes.

Fugindo agora do figurino, vamos falar do comportamento dos personagens. Esse filme traz algo muito interessante, e que eu falei já na introdução acima, que é o fato da mulher ser uma companheira do homem, e apesar de não gerenciar os negócios do marido, ela estava a par da situação, dando conselhos, apoio e fazendo a parte social, interagindo com as pessoas interessantes (gerando o famoso QI – quem indica). Isso é mostrado através de Marguerite Westinghouse, esposa do arquinimigo de Thomas Edison, que está sempre com o marido, e em toda a cena em que ela aparece, ela está envolvida com a empresa do homem e com as tretas geradas pelos negócios.

Em geral, é um ótimo filme para se conhecer o período, apesar dos deslizes (como o figurino feminino). Não só tem uma boa imersão na época como traz alguns conhecimentos sobre energia e eletricidade, além de mostrar o pensamento científico do século XIX. Ainda, é interessante pra caramba ver um filme sobre o Thomas Edison (é o Thomas Edison, bicho!) e sobre o nascimento da tecnologia. Não é à toa que eu estou aqui para recomendar o filme pela terceira (ou quarta) vez.



O Gênio e o Louco

Mais um filme que eu já recomendei mais vezes do que consigo contar… E que provavelmente vou recomendar outras tantas. O Gênio e o Louco conta a história sobre dois homens do século XIX, sendo um deles o James Murray, principal cabeça por trás do dicionário de Oxford, e o outro o Dr. William Chester Minor, colaborador do dicionário e louco, sentenciado a viver sua vida em um sanatório… Sob péssimas condições. É uma história sobre uma amizade inesperada, e sobre o resgate (ou condenação) de uma alma perturbada.

O filme se passa durante a Belle Époque também, porém tem uma fidelidade um pouco maior em relação ao figurino feminino, principalmente no que concerne aos decotes (dia, noite, dentro de casa ou na rua… Não importava, se não fosse baile, decote não era permitido). Também é interessante notar nas barbas e bigodes dos protagonistas, sendo este mais um ponto positivo para a caracterização. Como os homens abandonaram as cores e as rendinhas, uma forma de mostrar vaidade era através desse recurso.

Este é mais um filme que mostra o desenvolvimento da ciência no século XIX, mas desta vez da linguística e da filologia, demonstrando o grande trabalho de pesquisa que a gente nem imagina que existe para se construir um dicionário. Também é interessante notar como, vai ano e vem ano, a universidade não muda tanto assim: o esnobismo dos graduados sobre aqueles que não possuem diploma é igual a hoje, e também o hábito de manter os assistentes (vulgo bolsistas de iniciação científica) fazendo o trabalho pesado. É, meus filhos… Tem coisa que nem Deus muda nesse mundo!


O Rei do Show

De longe é o filme com menor grau de fidelidade histórica nesta lista (cabelos soltos em pleno século XIX?), porém ele é tão belo, tão lúdico, tão envolvente que eu jamais poderia deixar de indicá-lo. O Rei do Show retrata a história de P. T. Barnum, que foi um grande empresário do meio do entretenimento (e também político, filantropo e dono dos maiores engodos da América). É um filme que mostra a trajetória de um homem bem ao estilo “siga os seus sonhos”, porém embalado por músicas incríveis e coreografias de fazer babar. Se você gosta de filmes históricos, tenho certeza de que vai amar esse longa… E se nunca viu um na vida também.


O interessante para se falar sobre esse filme é que ele retrata como as pessoas diferentes eram vistas no século XIX. Os anões, albinos, gêmeos siameses e tantos outros não eram excluídos da sociedade, como séculos atrás acontecia, mas eram impedidos de participar efetivamente dela. Apesar do filme dar novas cores a esta realidade, a questão é que tais pessoas eram exibidas no ramo do entretenimento a fim de causar espanto nos expectadores, separados daqueles que são considerados normais. Eles não tinham outra vida além dessa, ou outra família a não ser uns aos outros.

Acredito que, tirando a romantização que Hollywood botou sobre o tema, o longa conseguiu passar bem a mensagem da segregação que os personagens sofriam, tendo este tema virado uma música belíssima chamada This Is Me. Além disso, nem só de drama histórico se faz a vida… De vez em quando é bom lembrarmos de sorrir, de cantar e de sonhar, e eu tenho certeza de que você vai conseguir fazer tudo isso com este filme.




A Dama das Camélias


Antes de começar este parágrafo, vamos estabelecer uma coisa: aqui estamos falando da versão de 1936, com Greta Garbo no papel de Marguerite Gautier. Pronto, podemos continuar agora. Filme inspirado no livro de Alexandre Dumas, que foi um grande sucesso durante o próprio século XIX, tendo virado peça de teatro que, ao menos na minha cidade (Porto Alegre - RS), foi apresentada um zilhão de vezes. A história fala sobre um rapaz, Armand Duval, que se apaixona por uma prostituta de luxo, apenas para viver os dramas envolvidos em amar uma mulher que se vende. História pra lá de manjada, mas foi aqui que ela nasceu.

Como esse é um filme em preto e branco, não podemos falar muito em cores no figurino… Mas é interessante notar o recurso que se utilizava para suprir essa necessidade, que é botar vestidos com tecidos abundantes e com brilho. Interessante também notar como os homens, nesse filme, usam mais babados do que nos citados acima, em especial em A Batalha das Correntes e O Gênio e o Louco. Ok, estamos falando aqui da alta sociedade parisiense, mas ainda assim os rapazes não botavam frufrus nos peitos ou usavam capas com brilho, coisa que já havia ficado no século passado. Pontos positivos, no entanto, para as luvas, cartolas e bengalas que, ao lado das barbas, eram tudo o que havia sobrado da vaidade masculina.


Do ponto de vista cultural, bem… O filme é quase autoexplicativo. É interessante pensar que, se fosse o caso de um adultério, apenas a mulher seria repudiada socialmente, porém, quando se tratava de um caso com uma prostituta, o homem era repudiado também. Havia limites para envolver-se com uma cortesã: você poderia pagar por seus serviços, ser seu amigo, ser até mesmo um cliente fixo, porém jamais casar-se ou levá-la para casa. Ou seja, o que era feito a portas fechadas não importava, contanto que tal relação não recebesse o status de qualquer outra abençoada pela igreja. Transar? Sempre. Amar? Nunca.

Nessa questão o filme se torna bastante dramático, ainda mais pela atuação incrível de Greta Garbo (não é à toa que ela era uma das queridinhas de Hollywood na época). Acredite em mim: se você já amou, ou ama alguém, vai sentir a dor dos personagens, com certeza. Em todo o caso, volte aqui após assistir a este filme, pois eu quero saber o que você achou… E quero saber também se eu estava certa e você se emocionou!




No Coração do Mar

Esse filme conta a história que inspirou Herman Melville a escrever Moby Dick, e foca a trama em uma tripulação de baleeiros que sofrem todo o tipo de desgraça em alto-mar, em especial depois do encontro com uma baleia branca gigante. É um longa para os amantes de aventuras no mar e histórias com dramas perturbadores, contando com a direção de Ron Howard e atuação de Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Tom Holland, Brendan Gleeson e Michelle Fairley. É um filmão, hein gente… Se vocês não viram, podem ir correndo para a Netflix assistir!


Um detalhe interessante neste filme é perceber a dificuldade que se tinha para caçar as baleias. Os caras iam em botes, véio! Com uns arpões meia-boca, tudo feito na cara e na coragem. Ainda assim, apesar de parecer algo incrível, na verdade é algo obscuro e tenebroso. As baleias eram caçadas pela ganância do homem, algo que ficou bastante claro em No Coração do Mar, sendo assassinadas em massa para o bem-estar de nossa raça. Se você já viu o filme, vai perceber que os personagens levam muito tempo até encontrar a sua primeira baleia. Coincidência, ou isto já era resultado da caça predatória? Na real, não somente as baleias eram assassinadas nessa loucura, mas também muitos homens morriam em alto-mar por causa de tais negócios. Tantas vidas ceifadas! E esta, inclusive, é uma lição que os personagens aprendem ao longo da trama, após sofrerem por fome, sede e doenças de tudo quanto é forma.


Não vou falar muito sobre figurino, mas posso dizer que a caracterização é incrível neste filme, dando a entrever na barba crescida, roupas rasgadas e na magreza dos atores a real dimensão do sofrimento dos personagens. Também dá para sentir a diferença entre as duas temporalidades do filme, passado e presente, ainda que alguns errinhos possam ser notados… Como o chapéu de três pontas que o capitão do navio usa, típico do século XVIII pré-Revolução Francesa. Na minha opinião, utilizaram esse chapéu porque, no imaginário coletivo, já estamos acostumados com filmes como Piratas do Caribe, e o associamos com aventuras marítimas. De resto, fica aqui a minha dica… Espero que assistam ao filme, e espero que gostem!


Com Amor, Van Gogh

Filme mais diferentão que eu já vi na minha vida, e por isso mesmo incrível. Vocês já tinham imaginado um filme sobre Van Gogh que não fosse biográfico? Que fosse completamente pintado à mão, do começo ao fim, no estilo do artista homenageado? É como se um quadro de Vincent criasse vida bem à nossa frente! Além do mais, o personagem principal não é Van Gogh, nem mesmo é alguém que o admirava… É um rapaz chamado Armand Roulin, que é encarregado pelo pai para entregar uma carta póstuma de Vincent, e acaba se envolvendo em uma investigação sobre a morte do artista.


Como um filme poderia ter maior imersão do que este, que é basicamente uma pintura viva? Não tem como se aproximar mais do século XIX do que isso! Ainda assim, há pontos a se considerar: o amarelo da casaca de Armand não faz muito parte do repertório dessa época… Apesar de ser uma cor típica de protagonista. Também o seu chapéu não representa muito o período, apesar de dizer muito sobre a personalidade do personagem. Pela época (ano 1891), Armand deveria estar usando um chapéu coco. Impressionante, no entanto, é o figurino de Adeline Ravoux, a taverneira do lugar onde Vincent Van Gogh morava. Sua roupa ficou igualzinha àquela em que o artista a pintou, mostrando o capricho do diretor e da figurinista do longa.


Quanto à cultura… Bem, o filme nos mostra o quanto o século XIX resistia às mudanças em relação à arte. Para os impressionistas já foi um parto ganhar reconhecimento, para um pós-impressionista, então… Suas ideias simplesmente não eram compatíveis com o que aquelas pessoas consideravam arte. Não é à toa que Van Gogh somente vendeu um quadro em vida, ainda que hoje todo mundo conheça as suas obras (se não ao vivo, ao menos na internet).


Gente, quem gosta de arte deve obrigatoriamente ver este filme! Ele está na Netflix, então não tem desculpa para não vê-lo. Estamos falando aqui de uma obra inovadora e sensível ao mesmo tempo, que faz jus ao nome do seu homenageado. Deem uma chance à obra, e eu tenho certeza de que não vão se arrepender!




Orgulho e Preconceito

Como poderíamos falar sobre século XIX sem falar na adaptação da melhor obra da escritora mais incrível deste planeta? Claro, estamos falando aqui da adaptação mais queridinha entre os fãs de Austen, que é aquela de 2005, com a Keira Knightley e o Matthew MacFadyen. Para quem não conhece, esta é uma comédia romântica que se passa na sociedade rural da Inglaterra, onde uma jovem com uma família um tanto pobre se apaixona pelo ricaço da região, porém antes de admitir este amor para si mesma ela vai ter que enfrentar seus preconceitos, uma vez que a primeira imagem que ela fez do dito rapaz foi a pior o possível. Esta é a trama clássica em que coisas mal explicadas fazem uma pessoa criar um julgamento, e a partir daí uma série de outros equívocos acontecem, até tudo se esclarecer no final.


Sobre o figurino, já vou adiantando: existe uma cena em que as moças estão botando os corseletes, e ela me deixa um pouquinho irritada, porque no início do século XIX (época em que Jane Austen viveu e escreveu) não se usava corselete. Quero dizer, isso nem faz sentido, já que os vestidos não são justos abaixo do seio! Durante essas primeiras décadas as mulheres estavam mais preocupadas com conforto do que em parecerem sexys, e até mesmo o salto foi abolido. Tirando isso (e os cabelos e os decotes… Ah, sempre os decotes!), o figurino é bastante interessante, seguindo a silhueta própria do período.


Quanto à cultura, eu nem preciso falar nada sobre a verossimilhança, visto que estas são quase as palavras da própria Austen! O tema casamento, é claro, se sobressai, principalmente em relação às expectativas dos pais da moça. O medo era que a jovem ficasse encalhada (como a personagem Charlotte Lucas que, com 27 anos, já era considerada uma solteirona), então há certo desespero para que a garota aceitasse o primeiro homem que batesse à porta propondo um casório. Na real, com 18 anos a jovem já era considerada uma fracassada se não estivesse casada, dá pra acreditar nisso? E aí, meus filhos, a língua do povo corria solta, chamando a moça que ficou para titia de muitas coisas. Acreditem, o povo era criativo.


Orgulho e Preconceito tem uma trama leve, então dá para trazer a criançada para a sala na hora de ver o filme, visto que não tem cenas de sexo, de violência e nem um palavrão é dito durante os diálogos. É um longa-metragem bastante família, para aquele momento em que você quer relaxar um pouco (e, se for mulher, sonhar com um sr. Darcy para si. É inevitável). E aí, gostou da dica? Diz aí embaixo se você já assistiu ao filme, ou se ainda for assistir, quais são suas expectativas em relação a ele. Ansiosa para poder conversar com vocês!



Com estes sete filmes eu procurei falar sobre tudo um pouco da cultura do século XIX: moda, ciência, universidade, pessoas deficientes, caça às baleias, prostituição, arte, casamento e o papel da mulher na sociedade. Estes são sete filmes que nos permitem mapear um pouco os traços dessa época fascinante, e eu espero ter sido bem-sucedida nesta empreitada. Ficou algo faltando? Há alguma coisa que você queria saber sobre o período, mas é um assunto que não tangencia nenhum destes filmes que escolhi? Conte para nós nos comentários! Quem sabe, mais para frente, eu escrevo outros textos, falando sobre outros aspectos deste século? Por enquanto, no entanto, eu deixo para vocês um beijo e um queijo, esperando ansiosa o momento de nos encontrarmos em outro artigo aqui, No Escurinho do Cinema. Até a próxima!

2 Comments


D. C. Blackwell
D. C. Blackwell
Sep 10, 2020

Eu amei cada um desses filmes, são todos sensacionais! Cada um com sua peculiaridade. Há tanta coisa pra se explorar no passado, tantas obras espetaculares pegando pó por aí... Me dá tristeza de ver que é necessário praticamente contratar um detetive pra descobrir algumas preciosidades que mereciam ser super populares.

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Angers Moorse
Angers Moorse
Sep 10, 2020

O Rei do Show é excelente... e mostra toda a versatilidade de Hugh Jackman. O cara é um baita ator!

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