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Um Olhar Sobre a Dinastia Tudor - A Outra

  • Foto do escritor: Gisele Alvares Gonçalves
    Gisele Alvares Gonçalves
  • 24 de set. de 2020
  • 7 min de leitura

Atualizado: 2 de dez. de 2020

E aí, reis e rainhas… Estamos aqui com mais uma obra de audiovisual sobre a dinastia Tudor, e dessa vez trouxemos o filme que, por ser adaptação de um livro da Phillippa Gregory, é a sequência lógica de The White Queen, The White Princess e The Spanish Princes. A Outra foi um dos primeiros longas que eu vi sobre os Tudors, e eu devo confessar… Na época, quando eu era apenas uma adolescente, ele me impactou pra caramba, e ontem à noite, quando eu o vi novamente, levei o mesmo golpe de doze anos atrás. Os principais fatores que o tornam tão emocionante é certamente a trilha sonora, que conduz os nossos sentimentos em uma tensão crescente, e a atuação brilhante da Natalie Portman. Sério, esqueça a personagem sem graça que a Natalie interpreta em Thor (que, sinceramente, faz a gente duvidar do talento dela), é nesse filme que você vai ver o quanto ela merece uma estatueta de Oscar!


O choro nervoso de Anne Boleyn é tão verdadeiro, o seu desespero enlouquecido é tão genuíno que, a um ponto da trama, a gente começa a sentir o mesmo que ela, fazendo o nosso coração ficar apertadinho lá no peito. Ok, sei que muita gente considera ela uma vaca fria e egoísta, especialmente pela maneira como ela tratou a Mary… Mas é dessas personagens que eu gosto mesmo, e confesso que sempre acabo torcendo pela Anne. Eu gosto das personagens que são geniais na hora da conquista, e a Natalie brilhou muito nestes momentos também! Com um sorrisão que poderia ofuscar o sol, e um olhar travesso que não tinha como não chamar a atenção do rei.


Claro, o roteiro certamente colabora para que Anne seja essa cobrinha conquistadora que acabou se tornando no filme, e a forma como ela está sempre atiçando Henry com a escolha de palavras certas (usando “coxas” ao invés de “pernas”, por exemplo), e também chamando a atenção para certas partes de seu corpo, ainda que não as revele (como quando ela mostra a cruz sobre seus seios), faz dela uma das nossas amadas bitch divas do cinema. Ok, ela eventualmente acabou errando na arte de seduzir, como a Catherine antes dela (The Spanish Princess), mas seu erro foi um pouco diferente: ela não revelou amor incondicional ao homem, mas exigiu demais dele, o que fez com que a paixão se transformasse em ódio.



Um dos pontos que me chamou muito a atenção nesse filme, mais até do que em qualquer outro, foi a construção dos personagens através do figurino. Você já reparou como a Anne e a Mary estavam sempre vestidas iguaizinhas no começo do longa, e pouco a pouco elas foram se diferenciando, até não restar nenhuma semelhança? Pois bem, esse foi um recurso ousado, porém bastante acertado para mostrar a conexão entre as irmãs, e as jornadas delas da inocência rumo à perdição… Perdição esta que chegou a cada uma delas de forma muito diferente da outra. Outro recurso que foi usado, e que separou a vida campestre das Bolenas de sua estadia na corte, foi o volume dos vestidos. Quando elas chegam ao quarto da Catarina de Aragão, ainda exibem trajes murchos que dão a entender o deslocamento delas naquele ambiente. Conforme o filme passa, no entanto, a roda de suas saias aumenta, e elas demonstram assim completo domínio daquele ninho de cobras.


Acho que este filme é o que mais fala ao público através do figurino, e mesmo uma pessoa que não entende nada sobre o assunto pode pescar alguns significados, já que eles são bastante evidenciados. Como, por exemplo, o fato de que, no início do filme, nenhuma das irmãs Bolena utilizaram o chapéu de bordas arrebitada que a Catarina usava, mas apenas o capelo (arredondado), dando uma identidade distinta para a espanhola e para as inglesas. Anne, no entanto, usa o chapéu de bordas arrebitadas pela primeira vez quando ela se parece mais com a Catarina, ou seja, quando vai a julgamento. É como se, naquele momento, ela se colocasse na situação da antiga rainha, como se ela soubesse pela primeira vez a dor que infligiu a outrem. Ela não é mais a jovem radiante e sedutora que um dia fora, mas apenas uma peça descartada pelo rei, um corpo estéril que precisa ser despachado da corte. Se você pensar em todos os significados que tal chapéu possui nesta cena vai ficar emocionado, como eu fiquei, e entender a diferença que um bom figurinista faz em um filme.


Outra coisa que fala muito sobre os personagens para nós é a cor que eles usam. Se vocês repararem, Anne usa muito o verde, a cor dos manipuladores e ambiciosos, enquanto que a Mary usa bastante as cores quentes, como o dourado e o vermelho, mostrando que ela é calorosa e amável, que é apaixonada e, em última instância, é a menina de ouro da família. Mary é como um raio de sol que aquece o coração daqueles que se aproximam dela, e por mais que ela apanhe da vida, ela não deixa de ser uma pessoa boa e altruísta. Ok, às vezes ela não é apenas boa, mas boba, o que faz com que tripudiem sobre ela. Ainda assim, não existe um personagem no filme que verdadeiramente odeie ela, ainda que ela seja um pouco inocente e facilmente passada para trás.


Tirando o figurino incrível (criado por Sandy Powell, a mesma que trabalhou em A Favorita, A Jovem Rainha Vitória, Gangues de Nova Iorque e Entrevista com o Vampiro… Só filmão, hein!), tivemos também um elenco pra lá de conhecido, e alguns que hoje são bastante famosos, mas na época estavam recém no início de sua carreira, como Benedict Cumberbatch e Eddie Redmayne. Além disso, o diretor soube extrair o melhor de cada ator, conseguindo dar todo o brilho merecido à atuação da Natalie Portman, e deixando a Scarlett Johansson ainda mais linda do que ela já é (depois de ver A Outra, a gente nem consegue mais ver a beleza dela como Viúva Negra… Bom, ao menos eu não consigo).



Outro ator que brilhou neste filme foi o Eric Bana, quem a gente já conhecia do filme Tróia. Ele deu tantas nuances ao personagem… A autoridade, a segurança sobre si mesmo e o egoísmo velado pelo olhar sereno são apenas as que mais se destacam, porém podemos encontrar muitos outros pontos submersos naqueles olhos negros. Um deles é que, ao contrário do Henry de Ruairi O’Connor, em The Spanish Princess, este não precisa se provar para ninguém… Ou seja, apesar de ser impetuoso e impulsivo, tais traços ficam escondidos sob uma feição solene, enquanto ele guarda todo o ressentimento e frustração para si mesmo… Até que, em algum ponto, o ressentimento transborda e se torna fúria. Também a sua indiferença em relação aos outros parece algo tão natural que a gente nem nota que está ali, e o pior, o próprio Henry não nota. Seus defeitos, então, parecem muito mais solidificados e impenetráveis, tornados assim por sua própria inabilidade em lidar com a frustração.


Um personagem que não teve tanto destaque neste filme (a não ser no final), mas que teve uma atuação brilhante foi o George Boleyn, interpretado por Jim Sturgess. É incrível, nem chegam a mencionar a sexualidade do personagem no longa e a gente já saca que ele é homossexual, só pelos trejeitos que o ator emprestou ao personagem! O Jim realmente deu um tom alegre e despreocupado para o George no início do filme, e tornou-o um personagem querido e simpático, ainda que aparecesse pouco. No final, no entanto, ele arrebentou ao interpretar a cena do quase-sexo com a Anne Boleyn, trazendo ao drama algo de tão verdadeiro e visceral que dói na nossa alma, enquanto espectadores. Olha, eu não conheço muito desse cara em outros filmes, mas acho uma pena que os diretores não estejam usando mais essa joia aí. Acorda, Hollywood!


Além do elenco incrível, o filme também tem uma imersão muito forte (uma das melhores que eu conheço)… À parte da trilha sonora, que chega a ter um solo de piano (no Opening Titles). Não me entendam mal, eu tenho adoração pela trilha desse filme! Ela é linda e emotiva, carregando nossa emoção pela melancolia e pela tensão como poucas são capazes de fazer. Ainda assim, eu reconheço que nem sempre ela ajuda a entrar na época transposta em tela, principalmente pela escolha dos instrumentos utilizados, que funcionariam muito melhor em um filme sobre o século XIX. Sim, eu sei, fazer a trilha sonora de um filme sobre o século XVI é sempre um desafio! Até porque este período tinha uma sensibilidade musical muito diferente da nossa, e se o compositor quiser ser muito fiel, pode acabar perdendo a mão na dramaticidade da história. Ainda assim, acho que seria possível trabalhar mais sobre cordas nos momentos cruciais, como no Opening Titles. Fala sério, uma viola da gamba ficaria incrível neste momento, afinal daria a imersão sem tirar a emoção da cena.


Enfim, é isso o que eu tinha para falar sobre A Outra… Gostaram da resenha? O que acharam do filme? Deixem aí abaixo nos comentários a sua opinião sobre o que falamos aqui, ou sobre qualquer outra coisa que diga respeito a este longa-metragem. Estarei aguardando vocês, hein? Ah, e não deixem de ler as resenhas anteriores da nossa saga Um Olhar Sobre a Dinastia Tudor! Os links estarão aí embaixo. De resto, deixo um beijo e um queijo pra vocês, e uma esperança de que possamos nos reencontrar em outros artigos. Até a próxima!


1 Comment


Ana Franskowiak
Ana Franskowiak
Oct 02, 2020

AAAAA fiquei doida pra ver. E eu vou escrever sobre uma série estrelando o Eric. Aguardem!!!

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