A Autópsia
- D. C. Blackwell
- 25 de jun. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de mar. de 2021
A morte e o retorno dos cadáveres andantes esteve no imaginário dos amantes de terror desde seus primórdios, com obras como Frankenstein e Nosferatu. O tema bruxaria, então, é quase uma constante, sendo popular desde A Bruxa De Blair a diversos outros títulos com nomes muito semelhantes. O que o diretor André Øvredal nos traz de especial e inovador em A Autópsia é a maneira como a trama insere estes elementos, além de como os personagens reagem a eles.
Nossos protagonistas são pai e filho donos de um necrotério numa pequena vila em Virginia. Juntos, eles produzem a maioria esmagadora dos diálogos do filme, que, inclusive, são parte essencial da construção desta narrativa, dado o teor investigativo do trabalho deles em cima do corpo da Jane Doe – o equivalente inglês para Zé Ninguém. A dita cuja revela-se cada vez mais misteriosa e assustadora para a dupla de legistas conforme a análise da causa da sua morte avança, pois lhes faltam explicações plausíveis para os seus achados, que culminam na revelação de uma espécie de ritual de sacrifício, ou assim achavam eles. Conforme estas revelações ocorrem, vamos recebendo mais informações a respeito do background destes personagens centrais, e devo dizer que amei a construção deles! O pai culpa a si mesmo pelo suicídio da esposa, e o filho se sente no dever de cuidar e protegê-lo deste sentimento. E isso me é interessante porque dificilmente temos um vislumbre tão realista dentro do ponto de vista dos parentes deste tipo de vítima. “Eu a chamava de raio de sol”, afirma o pai em determinado momento, explicando que ele jamais teria sido capaz de imaginar o que se passava de mais sombrio dentro do coração da esposa. “Eu deveria saber, deveria ter percebido”, ele complementa. Esse diálogo me agradou bastante por ser um dos pontos mais pé no chão da trama, mostrando que uma boa obra de ficção pode e deve ser verossímil, além de reconhecer e refletir questões da humanidade de maneira a processá-las para que o público seja capaz de não apenas simpatizar, mas também pensar a respeito do tema.

Outra coisa que amei na narrativa foi a maneira como nós, telespectadores, recebemos insumos de conhecimento sobrenatural em doses homeopáticas. Não sei se sou apenas eu, mas me ocorre que o tom do terror mais imaginativo, que se constrói dentro da mente de quem assiste a obra através das hipóteses dos personagens, é muito mais gostoso e mexe bem mais com o emocional do que cenas puramente gore. Ver os legistas pegando os pedaços mutilados da Jane Doe e comentando sobre a dor que ela sentiu e sobre como ela deveria estar desfigurada ao ponto de ser irreconhecível me deixou mais tenso que qualquer cena dos filmes do Jogos Mortais.
Para finalizar com chave de ouro, o ponto alto do filme que o separou da vala comum de filmes de terror com bruxas e mortos que andam foi o detalhe histórico e também aquilo que considero um pedido de desculpas às mulheres torturadas e mortas durante a famosa caça às bruxas, que durou cerca de três séculos.
“E se tudo o que eles fizeram com ela a tornaram aquilo que estamos tentando parar?”
Esta trama foi uma das coisas mais interessantes que já vi num filme de terror de massas: Ela quebrou estereótipos, abordou temas sensíveis respeitosamente, incitou a pesquisa histórica e retrabalhou as bruxas clássicas de uma forma socialmente saudável. Valeu a pena cada segundo!A morte e o retorno dos cadáveres andantes esteve no imaginário dos amantes de terror desde seus primórdios, com obras como Frankenstein e Nosferatu. O tema bruxaria, então, é quase uma constante, sendo popular desde A Bruxa De Blair a diversos outros títulos com nomes muito semelhantes. O que o diretor André Øvredal nos traz de especial e inovador em A Autópsia é a maneira como a trama insere estes elementos, além de como os personagens reagem a eles.
Nossos protagonistas são pai e filho donos de um necrotério numa pequena vila em Virginia. Juntos, eles produzem a maioria esmagadora dos diálogos do filme, que, inclusive, são parte essencial da construção desta narrativa, dado o teor investigativo do trabalho deles em cima do corpo da Jane Doe – o equivalente inglês para Zé Ninguém. A dita cuja revela-se cada vez mais misteriosa e assustadora para a dupla de legistas conforme a análise da causa da sua morte avança, pois lhes faltam explicações plausíveis para os seus achados, que culminam na revelação de uma espécie de ritual de sacrifício, ou assim achavam eles. Conforme estas revelações ocorrem, vamos recebendo mais informações a respeito do background destes personagens centrais, e devo dizer que amei a construção deles! O pai culpa a si mesmo pelo suicídio da esposa, e o filho se sente no dever de cuidar e protegê-lo deste sentimento. E isso me é interessante porque dificilmente temos um vislumbre tão realista dentro do ponto de vista dos parentes deste tipo de vítima. “Eu a chamava de raio de sol”, afirma o pai em determinado momento, explicando que ele jamais teria sido capaz de imaginar o que se passava de mais sombrio dentro do coração da esposa. “Eu deveria saber, deveria ter percebido”, ele complementa. Esse diálogo me agradou bastante por ser um dos pontos mais pé no chão da trama, mostrando que uma boa obra de ficção pode e deve ser verossímil, além de reconhecer e refletir questões da humanidade de maneira a processá-las para que o público seja capaz de não apenas simpatizar, mas também pensar a respeito do tema.

Outra coisa que amei na narrativa foi a maneira como nós, telespectadores, recebemos insumos de conhecimento sobrenatural em doses homeopáticas. Não sei se sou apenas eu, mas me ocorre que o tom do terror mais imaginativo, que se constrói dentro da mente de quem assiste a obra através das hipóteses dos personagens, é muito mais gostoso e mexe bem mais com o emocional do que cenas puramente gore. Ver os legistas pegando os pedaços mutilados da Jane Doe e comentando sobre a dor que ela sentiu e sobre como ela deveria estar desfigurada ao ponto de ser irreconhecível me deixou mais tenso que qualquer cena dos filmes do Jogos Mortais.
Para finalizar com chave de ouro, o ponto alto do filme que o separou da vala comum de filmes de terror com bruxas e mortos que andam foi o detalhe histórico e também aquilo que considero um pedido de desculpas às mulheres torturadas e mortas durante a famosa caça às bruxas, que durou cerca de três séculos.
“E se tudo o que eles fizeram com ela a tornaram aquilo que estamos tentando parar?”
Esta trama foi uma das coisas mais interessantes que já vi num filme de terror de massas: Ela quebrou estereótipos, abordou temas sensíveis respeitosamente, incitou a pesquisa histórica e retrabalhou as bruxas clássicas de uma forma socialmente saudável. Valeu a pena cada segundo!
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