A genialidade de Breaking Bad em 3 tópicos
- D. C. Blackwell
- 9 de abr. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 25 de mar. de 2021
Saudações do tio Blackwell! Como estão todos durante esta quarentena?
Breaking Bad teve sua primeira temporada há 12 anos e ainda é uma série a ser lembrada como uma das melhores já criadas na história. Vou explicar em 3 tópicos tudo o que você precisa saber caso tenha passado a última década inteira num coma – porque esta é a única explicação pra você não ter assistido a série ainda! E pra quem já assistiu e entende do que eu estou falando, venha relembrar comigo essa série icônica!
1 – Humor Irônico e Realismo
Drama nunca foi muito a minha praia. E foi o primeiro episódio de Breaking Bad que me mudou completamente nesse sentido. Lembro como se fosse ontem: A série começa com Walter White só de cueca e máscara de gás batendo uma van no meio do deserto. Ele desce da van completamente transtornado, mas retorna, apenas para encontrar a primeira cena estonteantemente caótica da série, nos deixando com uma lista de perguntas que cresce exponencialmente conforme avançam os segundos. E quem está assistindo sabe que aquela não é uma cena engraçada. Ela deveria ser, mas a trilha e os eventos que se sucedem vão construindo um cenário cada vez mais trágico e eletrizante, culminando com o Walter gravando um vídeo para a família para o caso de ser preso ou morrer. Essa cena em particular, esses primeiros 2 minutos de série, foram o suficiente para me cativar por completo.
Mas por que isso é tão importante, tio Blackwell?

A resposta é bem simples: esse tipo de cena em que os personagens acabam se atrapalhando e entrando em situações embaraçosas, quando bem utilizadas no drama, têm um poderoso efeito de realismo e de conexão com o expectador. Sinceramente, imagine-se na situação acima e tente visualizar outro rumo para aqueles eventos, dado que qualquer pessoa no lugar de Walter White também estaria uma pilha de nervos e em completo estado de agitação pela iminência de um fim trágico para a própria vida. E esta mesma ideia de ter personagens realistas, como eu e você, passando pelas situações mais absurdas, traumatizantes e perigosas, percorre toda a série.
Outra coisa que difere muito Breaking Bad de outras séries é o fato de que os protagonistas estão em constante mudança. Geralmente, um personagem de série é mais psicologicamente estático, ou seja, mantém um padrão de comportamento que possa ser reconhecido ao longo dos episódios e temporadas. Vince, o diretor, quebra este paradigma, trazendo personagens que não apenas mudam, mas se transformam gradativa, porém completamente, de maneira natural durante as 5 temporadas da série. Normalmente, isso seria muito perigoso, porque é muito fácil que um personagem acabe perdendo identidade durante uma transição de comportamento, mas Vince, juntamente com o elenco espetacular da série, fez um trabalho digno do recorde mundial e histórico de série melhor aclamada pela crítica e pelo público!
2 – Psicologia das Cores
Uma das coisas mais fantásticas do cinema é a utilização de cores e outros elementos visuais para nos transmitir determinadas emoções ou nos fazer imaginar coisas que podem ou não acontecer ou ter acontecido. Um exemplo muito comum é a cor vermelha, utilizada quase como via de regra para determinar situações de perigo e atenção. Se não acredita em mim, pegue qualquer filme aclamado pela crítica de cinema e verifique cenas de enorme tensão. Isso também ocorre em outras mídias, como anime, por exemplo. E Breaking Bad faz excelente uso de palhetas de cores para determinar as intenções de cada cena e personagem ao longo da trama.

Para citar alguns exemplos disto, relembro Walter White que, ao longo do seu desenvolvimento de professor bonzinho e injustiçado a magnata da metanfetamina e do mundo do crime, começa a série vestindo cores claras e passa por uma transição que começa com a cor verde – simbolizando a sua ganância ao começar o negócio de metanfetamina – e culmina num visual completamente obscuro. Lembremos também que Skyler é uma personagem que costuma utilizar a cor azul e, em cenas em que Walter está mais próximo do afeto dela, ele também está vestindo azul. Outro personagem que exemplifica bem essa utilização das cores é Jesse Pinkman, que começa usando frequentemente a cor vermelha, que remete a violência e impulsividade. Esta mesma cor é vista na camisa de Hank em momentos de violência. Ou seja, Vince Gilligan é um cara bem metódico e que pensa muito sobre todos os elementos que deve utilizar numa cena.
3 – Elenco e Utilização de Câmeras
Vince é um diretor sem igual. Mas até mesmo ele pode ser surpreendido. Esse é o caso de Aaron Paul, que interpreta Jesse Pinkman. Sabia que o personagem foi planejado para morrer na primeira temporada? O que aconteceu foi que Aaron surpreendeu Vince com um personagem que superou as expectativas e agradou tanto que acabou virando personagem central, tornando-se contraponto do nosso anti-herói. E no fim da série, é por ele que torcemos com mais vontade! Bem, ao menos essa foi a minha experiência.
Mas, como eu disse, Vince é um diretor sem igual. E isso se aplica à escolha de outros membros da série, como Bryan Cranston e Bob Odenkirk, ambos atores derivados de comédias. Sabe por quê eles foram escolhidos? Segundo Vince, se um ator consegue prosperar na comédia, significa que ele é um excelente ator – e Jim Carrey que o diga, meus amigos! Embora eu mencione alguns atores mais que outros, não acredito que seria capaz de citar alguém dessa série que não seja incrível. Entretanto, vou citar um ator que deu vida a um personagem que me surpreendeu de uma forma que eu jamais vou esquecer: Dean Norris – ou Detetive Hank, cunhado de Walter White. No primeiro episódio da série, ele me pareceu mais um estereótipo de tiozão do churrasco que faz piadas ruins e quer ser o machão da vez. Mas, ao longo da trama, ele acabou se tornando um dos meus personagens favoritos de todos os tempos! Hank não é só um cara bom, ele também é extremamente humano. Um humano de meia-idade que, apesar de ser um exemplo dentro da polícia, tem suas virtudes e sua coragem constantemente testadas pela pressão da periculosidade de seu trabalho como detetive da polícia. Ele é, de longe, o personagem mais autêntico e real que já vi na vida, além de ser uma boa pessoa e um excelente profissional do reforço da lei.

Outra grande virtude de Vince Gilligan é a manipulação das câmeras. Breaking Bad tem os cenários mais incríveis vindos diretamente do Novo Mexico, com pores-do-sol poéticos sobre as dunas vermelhas e tomadas distantes, nos mais diversos cenários naturais e urbanos, carregadas de significados e emoções. Este, porém, é apenas um dos talentos cinematográficos de Vince que transformam a série em um filme gigantesco dividido em capítulos de 1 hora cada. Outra técnica genial é o uso de truques para revelar pequenos segredos das cenas – como é o caso dos quadros da família White, que constantemente mudam em detalhes conforme avança a trama, ou a clássica cena da Skyler conversando com a irmã por telefone numa cozinha aparentemente vazia, até que a câmera se move, apenas para revelar Walter White parado na frente dela, antes oculto por um pilar.
Nestes últimos 12 anos, não encontrei nada parecido com Breaking Bad. Nenhuma outra série – embora haja muitas séries espetaculares por aí – foi capaz de me marcar de maneira tão intensa quando esta, e posso dizer com propriedade que, não importa quanto tempo se passe, Breaking Bad terá sempre um espaço no meu coração.
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