Artemis Fowl - O Mundo Secreto
- Angers Moorse
- 18 de jun. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 25 de mar. de 2021

Salve, salve, galera! Finalmente, após alguns atrasos e adiamentos, o filme Artemis Fowl - O Mundo Secreto foi lançado na plataforma de streaming da Disney, o Disney+, no dia 12 de junho. Se você gosta de aventura e fantasia, já leu os livros da série e estava na expectativa do filme, prepare-se… para morrer de raiva!
Para começar de leve… encontramos nosso vencedor da próxima edição do Framboesa de Ouro na categoria Pior Filme! Como diz o comediante Paulinho Mixaria: pensa num filme ruim… e multiplica! A partir de agora, você vai saber os porquês (sim, foi mais de um motivo para não recomendar o filme).
Primeiro grande furo do filme: vender um produto e entregar outro. Tudo o que foi dito na sinopse do filme ou foi pura falácia ou foi totalmente ignorado. Muitos dos defeitos do filme já podem ser apontados a partir dela. Em nenhum momento vemos algo que justifique e comprove a fama de maior ladrão do mundo de Artemis Fowl, algo muito divulgado e bastante esperado. Da mesma forma, o lado super inteligente e perspicaz dele ficou longe do que esperávamos ver.
Minha primeira impressão negativa foi em relação ao roteiro do filme. É meio aquela coisa do tipo “você tem uma hora e meia de filme para explicar tudo… se vira”. Trama muito atropelada, com vários saltos temporais e espaciais que prejudicam muito a imersão na história.
A ideia era adaptar os dois primeiros livros da saga no primeiro filme, algo até que entendível e aceitável, desde que tivesse sido feito com cuidado, carinho e atenção. No entanto, teve diálogos pouco eficientes, mudanças bruscas de ritmo das cenas e uma narração bizarra entre elas.

Quando você começa a tentar se conectar com algo, vem aquela parada brusca para a narração do personagem Mulch Diggums (Josh Gad) que, além de trazer um desnecessário e desconexo ar noir ao filme, com tons de preto e branco e aquela voz padrão de narrador de filmes policiais dos anos 30 e 40, corta toda e qualquer conexão que você tente fazer ao longo do filme. Vou dar um descontinho para a cena dele abrindo a boca para começar a cavar o buraco até a mansão Fowl... uma das únicas cenas que eu gostei.
Apesar da direção de Kenneth Branagh e do roteiro escrito por Conor McPherson e Hamish McColl, algo aconteceu no meio do caminho e fez com que um filme que tinha potencial para ser o início de uma boa saga se transformasse em um dos piores filmes da história. De duas coisas, penso que uma delas aconteceu: ou o escritor tentou dar opiniões sobre o roteiro e elas foram completamente descartadas ou simplesmente ninguém da produção do filme o procurou.
Entendo que, caso o escritor dos livros, Eoin Colfer, estivesse envolvido no projeto e que suas ideias fossem aceitas pela equipe, certamente teríamos um roteiro mais coeso e bem elaborado e, por consequência, um filme com qualidade. Alguma treta grande rolou e culminou nessa Bomba de Hiroshima.
Falando das narrações, o longa usa aquele artifício comum de muitos filmes policiais ou de drama, no qual um narrador conta a história aos poucos, vindo do final da trama para o início. E não é culpa desse estilo, pois funcionou muito bem em vários filmes, como Rocket Man, por exemplo… aliás, esse é um filme maravilhoso, com roteiro praticamente impecável!
Embora o elenco seja muito bom e com nomes de peso (Judi Dench, Colin Farrel e Josh Gad, entre outros), percebe-se o desconforto e falta de sinergia entre eles durante as atuações. Por exemplo, apesar da escolha de Dench para o papel de Comandante Julius Raiz ter sido excelente, deram-lhe apenas pouquíssimos minutos de tela, sem qualquer impacto ou relevância para a trama.
E o que dizer das atuações de Josh Gad, Colin Farrel e Lara McDonnell nos papéis de Mulch Diggums, Artemis Fowl Pai e Holly Short, respectivamente… apagaram o brilho e o impacto desses personagens na trama. Nos livros, são personagens muito interessantes, com os quais você se conecta fortemente ao longo da história. Contudo, além de não permitir, o filme praticamente ignora tudo isso.
Domovoi Butler (Nonso Anozie) chega a ter bons momentos no filme, mas é só isso. A própria interação entre ele e Artemis é muito estranha. Sobre Holly Short (Lara McDonnell), totalmente insossa no filme. Parece uma robozinha em grande parte das cenas, sem expressões, emoções ou sintonia… e olha que eu esperava muito dela no filme. O único personagem que ainda me trouxe pequena aprovação foi o do centauro Potrus (Nikesh Patel), que teve bons momentos... no geral, não passou disso mesmo.

Agora, a pior parte mesmo foi em relação ao nosso protagonista, interpretado por Ferdia Shaw. Sinceramente, não tenho nada contra ele, mas sua escolha para o papel principal foi, no mínimo, muito errada. Não esteve conectado ao papel em nenhuma cena, não teve a mínima interação e sinergia com nenhum dos personagens do filme, pareceu perdido ao longo de toda a trama e, quando seria preciso puxar o protagonismo para si, não o fez. Acredito que não seja por culpa dele, mas sim pelo roteiro horrível que foi escrito. Talvez, mesmo com outro ator, não seria possível mudar o cenário.
Outro ponto que me deixou bastante frustrado foi o Mundo das Fadas. Quando você coloca no título do filme “O Mundo Secreto”, e esse mundo é parte fundamental no filme, o mínimo que se espera é que ele seja bem feito e que chame a atenção, por mais simples que seja. E nem isso conseguiram fazer direito! Mesmo usando (e abusando) dos efeitos especiais e visuais, a tentativa de salvar o filme foi pelo ralo. E aquele visual das fadas… pareciam mais gnomos high-tech com roupas verdes… bizarro foi elogio para esse aspecto!
Os vilões (ou antagonistas) do filme também não ficaram muito claros. Teve a Opala Koboi (Hong Chau), que sequestrou Artemis Fowl Pai, e o Mulch Diggums, mas, em nenhum momento, ficou claro quem era antagonista ou anti-herói. Pelo fato da história ser atropelada demais, ficou confuso captar a essência e as motivações desses personagens.
Fora tudo isso, um segundo ponto que eu simplesmente detestei foi a forma como os artefatos foram abordados no filme. A própria questão do Áculos, principal artefato mágico do longa, não foi devidamente abordada. Apareceu, foi dito de quem era e que era importante, mas não foram mostrados os verdadeiros poderes desse artefato. Simplesmente, colocaram ele ali para ser um item na trama e nem tiveram o cuidado de explicar o porquê de ele estar ali.
Poderia ficar por horas falando dos defeitos do filme, já que não foram poucos. Ao menos, o fato de ter sido lançado pela plataforma Disney+, por causa da pandemia, teve seu lado positivo: evitou um fracasso ainda maior nos cinemas. Com custo de U$ 125 milhões, o prejuízo teria sido enorme para o filme, que teve uma arrecadação desde seu lançamento em torno de, até agora, U$ 5 milhões (dados não oficiais, uma vez que a Disney não divulgou os valores de arrecadação do filme em sua plataforma de streaming).
Se não houvesse a pandemia, e o filme fosse lançado nos cinemas, seria a última pá na cova da produção, já que teria bilheteria muito abaixo da expectativa mínima, além do fato de bater de frente com outros blockbusters a serem lançados quase que na mesma época, como Velozes & Furiosos 9 e Viúva Negra.
Em resumo: gostaria muito de ter escrito uma resenha bem agradável, elogiando o filme e pontuando todos os aspectos positivos e aqueles eventualmente negativos dele… não deu. Foi até bonitinho e tentou parecer inteligente e complexo, mas passou anos-luz longe de ser um filme, no mínimo, razoavelmente aceitável. Tentou ser criativo e imprimir uma identidade própria, mas errou feio e não conseguiu ser nem drama, ação, aventura, fantasia ou ficção científica… nem ele mesmo sabe quem é, tão perdido quanto seu protagonista.
Mesmo que não houvesse a pandemia, na falta de qualquer outra opção de filme, série ou documentário, em um domingo chuvoso e sem qualquer outra perspectiva de entretenimento em casa, Artemis Fowl - O Mundo Secreto seria a última opção possível que você gostaria de ter à disposição.
Bem, por ora, era isso. Continuamos monitorando aqueles filmes já prometidos por nós e, assim que forem lançados, estaremos fazendo as resenhas. No mais, cuidem-se e tenham uma ótima semana!
Gosto mesmo de ler críticas negativas, pois assim a gente não cai em algumas ciladas que Hollywood faz para a gente. Obrigada por salvar algumas horas da minha vida.