Creepshow - S1E3
- D. C. Blackwell
- 16 de out. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de mar. de 2021

Bem-vindos a mais uma resenha macabra!
Eu sou D.C. Blackwell, e venho lhes trazer mais um episódio de Creepshow, a série que estreou agora em Outubro.
No episódio de hoje, a Shudder nos presenteia com dois belíssimos contos de horror. Mesmo podendo dar algumas risadas, o final de cada conto nos surpreende e nos toca com sua morbidez. Esta, por sua vez, é tão inerente da humanidade, que nos prende a estas tramas e nos faz refletir sobre esse lado sombrio que todos nós temos, mas apenas os corajosos – ou loucos – são capazes de admitir.
Sem mais delongas, apresento-lhes o episódio 3 de Creepshow, da Shudder, intitulado “All Hallows Eve”/”The Man in the Suitcase”. Cheio de pecado, sadismo e com um humor perverso que considero genial, este episódio é, dentre os três que vi até hoje, o que mais me agradou num contexto geral.
All Hallows Eve
A história começa com um grupo de adolescentes se juntando para fazer, segundo eles, a última noite de “Doces ou Travessuras” na noite de Halloween. O grupo – Os Dragões Dourados - é recebido com certo horror e repudia pelas famílias que visita, encarando pessoas que os tratam como... Assassinos? Eles respondem à altura, impondo ainda mais medo por onde passam, até que chegam à última casa da noite. Uma mãe tenta proteger seu filho com uma espingarda, mas desiste ao ouvir do grupo que “isto precisa ser feito uma última vez, para que o ciclo se quebre”, e afirmando que não gostam do que estão fazendo, mas que é necessário.
A trama culmina com a revelação de que todo o grupo foi queimado vivo anos atrás e que o garoto que estavam caçando era o último do grupo, que causou o assassinato em massa. Quando o rapaz finalmente morre, os garotos se despedem e partem para o descanso final num tom angustiado.

Sobre a trama, o mistério é um elemento chave para a tensão que fica no ar quando os garotos visitam casa por casa, estranhamente solitários e temidos por todos. Tão queridos entre si, tão inocentes em seus semblantes...Esse choque de aparências entre como os vemos e como os outros personagens os veem nos gera uma inquietação que persiste até o último segundo.
Outro elemento que me pregou ao episódio foi a sensação de nostalgia gerada pelos diálogos e lembranças dos “Dragões Dourados”. Ficamos o tempo todo sendo lembrados de que eles são grandes demais para aquela brincadeira de Halloween e que aquela será a última vez, tudo isso sem saber que esses sentimentos possuem significados ambíguos. Aquela amizade intensa, num grupo de companheiros tão unido e leal, em breve sucumbiria ao fim de uma era. E este sentimento, mesmo quando descobrimos que também é sobre a libertação de seus espíritos perturbados, não muda. Pelo contrário, nos dói ainda mais saber que agora nem mesmo suas mortes cruéis os manterão unidos. Tudo o que resta é partir para nunca mais encontrar-se. Costumo dizer que o horror jamais permeia uma trama do início ao fim. O horror acontece aqui e ali, e nesses momentos de choque com tudo o que é confortável e pacífico, o horror perdura. Tal como uma cicatriz. O que vem depois do horror geralmente é pesar. Quando a adrenalina baixa, o personagem pode finalmente lamentar as coisas terríveis pelas quais teve que passar.
The Man in The Suitcase
Um jovem pega a mala errada no aeroporto e, ao chegar em casa, descobre que há um homem dentro dela. Não obstante, o homem está vivo. Pior ainda, ele produz ouro quando sente dor. O jovem, que é descrito por outros como alguém que se deixa passar por cima, que não dá valor ao seu futuro ou a si mesmo, quer ajudar o homem, mesmo sem entender nada do que está acontecendo. Porém, sua ex-namorada e seu melhor amigo acabam descobrindo e o coagem a manter o homem na mala sob tortura de maneira a enriquecerem às custas de sua dor.
Quando nosso protagonista tenta impedir que aquela insanidade continue, seus colegas quase o matam e decidem fazer um último saque de ouro sangrento do homem na mala. O homem, então, revela-se uma espécie de demônio e aprisiona a dupla sádica em malas. O jovem, no entanto, acorda no hospital, são e salvo. Grandes quantias de ouro jazem estocadas em sua casa, enquanto seus traidores são levados pelo homem – que agora não está mais dentro da mala, mas sim fora, na figura de um poderoso empresário.

Foi apenas há pouco tempo que passei a entender a real genialidade da comédia quando inserida no contexto do horror. Veja bem, que melhor maneira de distrair nossas consciências com uma situação curiosa, engraçada, divertida? Um homem preso numa mala? Os gemidos de dor que ele dá quando o garoto luta desajeitadamente para retirá-lo da mala? Até a trilha sonora insinua que estas cenas pareçam extremamente leves. Mas isto, meus amigos, é um engodo. Pura enganação. Esta artimanha da trama tem como função que, de duas possibilidades, ocorra ao menos uma:
Podemos continuar achando graça da situação até que as coisas fiquem mórbidas demais. Neste caso, sofreremos com o peso de termos, de certa forma, nos permitido apreciar com leveza a cenas de tortura. Já é tarde demais, você já riu, já aceitou aquela situação como algo cômico. Só o que sobra é tentar esquecer.
Ou pior, acabamos jamais percebendo nossa própria perversidade. Neste caso, quando um amigo seu lhe perguntar o que achou, você dirá que não teve horror, que foi engraçado, sem jamais perceber que, depois daquilo, você ficou um pouquinho menos sensível. E gradativamente, a longo prazo, não há redenção.
Ambas são histórias sobre egoísmo, vingança e pecado. A Ira dos Dragões Dourados e a Ganância induzida do Homem na Mala colocam à prova nossas definições de certo e errado. Questionamos a nós mesmos se postos naquelas situações incomuns.
Thomas Hobbes disse: “O Homem é o lobo do Homem”. Muitas vezes nos tornamos predadores em prol de nossos desejos mais profundos, alimentando-nos daqueles que nos darão aquilo que precisamos – ou assim pensamos – para sobreviver. Diante do pecado, aliados tornam-se traidores, inocentes são corrompidos.
E você, a que pecado sucumbe?
Se gostou da análise, então curta e compartilhe lá no Face!
Comments