Especial de Natal - Um Passado de Presente
- Angers Moorse
- 23 de dez. de 2020
- 6 min de leitura

Ho, Ho, Ho, galera! Natal chegando, e eu voltando ao site após um breve período de ausência. Muito provavelmente, foi a primeira vez em anos que a palavra “renascimento” teve um significado especial para mim… e acredito que para muitos de vocês também.
2020 foi o ano mais atípico da história recente da humanidade. Tivemos de nos readaptar a um novo “normal” (e ainda estamos nesse processo), mudar alguns conceitos e tirar alguns sonhos e valores que estavam empoeirados dentro do baú dos nossos corações. Mas não foi para falar disso que estamos aqui.
Natal batendo à porta, e eu fiquei pensando sobre qual filme escrever. Em um ano no qual muitos lançamentos acabaram ou saindo no streaming, ou sendo adiados temporariamente, quase caí na tentação de escrever sobre o filme que me remete diretamente a essa época do ano, Esqueceram de Mim. E, para não cair no estigma de “tiozão da internet”, busquei outras opções que, para minha alegria, trouxeram-me a este filme maravilhoso e muito fofo chamado Um Passado de Presente!
Muito embora o filme tenha sido lançado na Netflix em 21 de novembro de 2019, só acabei conhecendo ele neste ano, em uma daquelas noites nas quais você não tem a menor noção do que quer assistir. Aí, acabei arriscando a sorte… e fui feliz!
O filme é uma comédia romântica, dirigido por Monika Mitchell e com roteiro de Cara J. Russell. O trio de protagonistas é formado por Vanessa Hudgens, Josh Whitehouse e Emmanuelle Chriqui. Aliás, Vanessa, além de atriz, é produtora executiva no longa… e mandou muito bem nas duas funções!
A história se passa em duas épocas distintas e, ao que parece, paralelas. Em uma delas, o cavaleiro medieval Sir Cole (Josh Whitehouse) está prestes a participar da cerimônia de Falconaria Natalina, junto de Sir Geoffrey (Harry Jarvis) e outros cavaleiros. Durante a competição, Sir Cole conhece uma senhora misteriosa e, ao receber um misterioso medalhão, acaba indo parar no mundo de Brooke.
Ela, uma inteligente, doce e gentil professora de ciências. Ele, um homem honrado e bondoso, em busca de sua verdadeira missão e de seu propósito de se tornar um verdadeiro cavaleiro. E é a partir do encontro desses dois personagens que as coisas começam a acontecer.

“Lá vem mais um daqueles filmes mamão com açúcar, com final feliz e uma historinha boba”, você pode estar pensando agora. Sim e Não. O filme segue mais ou menos a mesma lógica de uma clássica comédia romântica, porém, possui alguns elementos muito interessantes.
O primeiro deles é a química praticamente perfeita entre seus protagonistas, brilhantemente interpretados por Vanessa Hudgens e Josh Whitehouse. Mesmo com ambos não possuindo características tão contrapostas e ácidas (no sentido de serem muito diferentes e opostos um do outro), a sutileza na diferença dos dois é muito perspicaz e interessante de se acompanhar.
Enquanto ela é cética sobre o amor por conta de seus fracassos e insucessos anteriores, ele é um obstinado por encontrar a verdadeira essência dessa palavra. Os valores morais que ele defende e pelos quais preza são um sonho distante para ela que, no mundo no qual vive, acha quase impossível que ainda existam, uma utopia.
E é justamente aí que vejo um dos pontos fortes do filme. A forma de abordar essas diferenças e em como cada um as enxerga é que faz com que a química dos protagonistas seja cada vez melhor e mais intensa. Isso sem contar que são dois fofos juntos (shippando o casal pelo resto da minha vida)!
A própria relação entre Sir Cole e a sobrinha de Brooke, a pequena Claire, é muito linda. E, para aproximar ainda mais os dois, Sir Cole acaba salvando a vida dela… fora outras situações engraçadas e emocionantes. Para quem pensa que o filme só tem risadas, é bom ir preparando o lencinho, pois algumas lágrimas marotas podem aparecer de repente.
O legal são as tiradas que Sir Cole dispara durante o filme. Tipo, ele dá algumas alfinetadas bem interessantes na sociedade, nos valores e nos hábitos. E muito do que ele alfineta pode ser precisamente colocado para nosso momento atual.
A forma como ele vê o mundo poderia muito bem ser levada mais a sério… e digo mais, muitos dos questionamentos trazidos pelo personagem poderiam nos tornar pessoas melhores, mais amorosas, virtuosas e humanas.
Outro ponto interessante da trama é a questão da viagem no tempo. Como duas pessoas, de mundos tão diferentes e que coexistem paralelamente e ao mesmo tempo, poderiam se encontrar? Mesmo sendo uma ideia romantizada e fantasiosa, há certa explicação científica nas entrelinhas.
Segundo a teoria, há inúmeras realidades coexistindo simultaneamente. E, para acessar essas realidades, seria possível realizar tal feito partindo do princípio que cada realidade possui certa frequência e, descobrindo essa frequência exata e uma forma de a acessar, seria possível abrir portais.
Em seu livro Mundos Paralelos, o físico Michio Kaku aborda essa teoria. Kaku, que é co-criador da Teoria de Campos de Corda (um ramo da Teoria das Cordas) e atualmente está pesquisando a “Teoria de Tudo”, afirma ser possível ver seu “eu” de outra realidade, talvez vivendo outra vida, em outra profissão ou ao lado de outra pessoa.

Trazendo a ciência para o lado da ficção do filme, talvez o amuleto que Sir Cole recebe de uma misteriosa senhora seja um dispositivo para acesso a realidades paralelas, que possibilita acessar a faixa exata da frequência daquela realidade e, consequentemente, abrir um portal de acesso. Vale notar que a mesma senhora do mundo de Sir Cole está no mundo atual de Brooke.
Mas a principal questão é: temos mais medo do desconhecido ou de descobrirmos que o desconhecido é possível? Inicialmente, Brooke imagina que seu novo “amigo” é alguém que perdeu a memória após ser atropelado por ela. Mas, à medida que as coisas vão acontecendo, ela começa a pensar que, de alguma forma, talvez ele possa estar falando a verdade ao afirmar que viajou no tempo.
Quem sabe nem seja viagem no tempo propriamente dita, mas sim a travessia entre realidades paralelas. Afinal, nada obriga que essas realidades estejam situadas na mesma linha temporal, o que permitiria que alguém do século XVI, por exemplo, pudesse ir até o século XXI ou mais além, e vice versa. E é a abertura dessa possibilidade que mais assusta Brooke.
Penso que isso a assusta mais até que o próprio fato do medo de amar novamente. Afinal, em seu coração, há um desejo imenso de ser feliz, encontrar seu grande amor, mesmo que seu lado racional tenha deixado de acreditar em contos de fadas. Mas seu príncipe encantado está ali para derrubar todas as suas crenças e a fazer mudar seus sentimentos.
Quem de nós não passou por isso alguma vez na vida (tirando a parte das realidades paralelas, obviamente)? Duvidar de algo não significa que esse algo não exista. Seja um amor, seja uma teoria científica. E, quem sabe, nosso maior medo não seja do que não conhecemos, mas sim de ter a certeza que o que não conhecemos existe de fato… fica a reflexão.
Voltando ao filme (again), o elenco de apoio também não deixa nada a desejar. As atuações de Emmanuelle Chriqui (Madison), Ella Kenion (Mrs. Claus) e Jacob Soley (Patrick), entre outros, são muito bem inseridas na trama, ora navegando em cenas cômicas ora em cenas mais sentimentais.
Fotografia, figurino e maquiagem são ótimos. Os tons de luz e cores dão o clima perfeito de Natal. A trilha sonora também é incrível, com destaques para as músicas All I Want For Christmas Is You, Sleigh Ride, The Holly and The Ivy, I'll Be Home For Christmas e White Christmas. Sua trilha sonora para este Natal será mais que maravilhosa com essas músicas!

Fico na expectativa por uma continuação do filme. Seria legal ver Brooke indo parar no mundo de Sir Cole, ter essa visão de mundo dela na realidade dele. Daria até para aproveitar uma das falas dele a Brooke, na qual ele pergunta se ela tem certeza que não é uma bruxa. Seria bacana ver ela em uma época medieval com hábitos, objetos e convicções modernas… daria uma boa história para a continuação.
Em resumo, é aquele filme para toda a família, com cenas engraçadas, apaixonantes e dramáticas, com muitas frases de impacto e reflexões importantes para nossos dias e nossas vidas. Vale juntar toda a turma depois da ceia ou almoço de Natal, preparar aquela pipoca e curtir Um Passado de Presente… e torcer para seu príncipe encantado (ou princesa encantada) aparecer na sua vida!
A trilha sonora realmente é excelente no filme... Dá pra entrar de cabeça no clima de natal com músicas tão emblemáticas quanto estas!