Megamente - especial Dia das Crianças
- Gisele Alvares Gonçalves
- 12 de out. de 2020
- 7 min de leitura
Atualizado: 6 de nov. de 2020
Olá gente bonita, tudo bem por aqui? Neste dia tão importante, viemos trazer uma humilde homenagem a todas as crianças do Brasil… E de fora dele também. Para alegrar a criançada, vim falar hoje de uma animação pra lá de divertida que tenho certeza que tanto os pais quanto os pequenos irão amar. É claro que estou falando de Megamente, um filme sobre vilão x super-herói feito especialmente para o público infantil! Mas calma lá, que essa história pode até parecer clichê, mas vai te surpreender de uma forma bastante positiva. Quer saber mais sobre este longa? Vem comigo, que hoje vamos destrinchar toda a filosofia e sagacidade por trás deste roteiro!
Claro, é inegável que as partes cômicas chamam bastante a nossa atenção na trama, em especial o diálogo que o Megamente tem com o Metro Man sobre a vingança ser um prato que se come frio, mas que dá pra requentar no micro-ondas da maldade! Gente, quase morro rindo nessa cena. Esse tipo de diálogo deve chamar bastante a atenção da criançada, em especial porque eles sempre vêm recheados com referências ao mundo infantil, como quando o Hal fala para a Roxanne que preparou uma festa com pula-pula, mas depois se deu de conta que garotas não gostam deste brinquedo, preferindo palhaços a ele. Aliás, a própria trama remete os pequenos ao que lhes é familiar, com a rivalidade entre Megamente e Metro Man se parecendo mais com uma brincadeira de pega-pega do que realmente uma guerra.
Mas será que é só isso? Esse filme é tão genial que ele se desenrola em camadas para nós, e tem vários níveis de complexidade, conforme a faixa etária do expectador. Claro, uma criança vai se divertir com as piadas e torcer pelo mocinho na hora da luta, porém nós, adultos, também podemos ver Megamente e extrair dele muito mais. Por exemplo, a rixa entre Megamente e Metro Man é realmente apenas uma brincadeira de pega-pega, ou é uma sátira aos filmes de super-heróis? Será que este filme não quer dizer, no fundo, que os filmes adultos que costumamos ver sobre a temática tem mais clichês do que geralmente admitimos?
Mas apesar de Megamente tangenciar o tema, em si ele não é nem um pouco cliché… Afinal, quando você viu a perspectiva puramente do vilão em um filme? Quando ele teve mais motivos do que simplesmente “querer dominar o mundo”, e quando ele se torna tão humano e, ousaria dizer, tão relacionável quanto neste filme? Afinal, Megamente nos mostra a origem de suas atitudes, e seus porquês. Ele nos mostra que, no fundo, o protagonista somente queria ser tão amado quanto Metro Man era, e queria ganhar os aplausos que seu rival ganhava. Em um mundo em que certos talentos são valorizados, e outros não, Megamente era posto de castigo injustamente, e sofreu na pele a dor de ser abandonado por todos, quando nenhuma das crianças da escola queria chamá-lo para o seu time nos jogos. Ele era sempre o errado, não importava o quanto se esforçasse e, em sua sede por ser visto e se relacionar com as pessoas, o protagonista escolheu que, se não fossem amá-lo, então ele aceitaria viver de ódio.
Este filme nos traz a noção de que ninguém é uma ilha, e que nossas ações inconsequentes podem gerar consequências permanentes em outras pessoas, não importa se forem intencionais ou não. Megamente queria uma chance para ser um herói, contudo por falta de apoio virou para o outro lado, não necessariamente para perpetrar reais maldades, mas para procurar sua própria felicidade. Talvez ele mesmo não soubesse então, contudo ele estava buscando o amor e a aprovação das pessoas, ainda que por caminhos tortos.

E nós, quantas vezes não desprezamos um Megamente? Quantas vezes abandonamos as pessoas, causando nelas consequências irremediáveis? Eu sei disso, pois eu também já fiz isso, ainda que não tivesse a intenção de prejudicar ninguém na época. É a falta de paciência que é nosso maior defeito, que nos faz desviar daqueles que precisam de ajuda, e que talvez cometam falhas que, aos nossos olhos, são difíceis de “aturar”.
Por outro lado, se o filme nos traz questionamentos sobre nossas atitudes, ele também toca em outro ponto crucial de nossa existência: a nossa razão de viver. Algum de vocês já esteve depressivo, conhece a sensação de desejar ter desejos? Pois Megamente conheceu, graças à concretização de seu único objetivo de vida, que era derrotar Metro Man. Afinal, este ato lhe deu a liberdade tão desejada, mas não lhe trouxe novos desafios, deixando sua vida vazia e sem rumo a ser seguido. Nós, como o Megamente, precisamos sempre de um propósito, algo a ser alcançado, uma luta em que possamos nos engajar. Seja publicar um livro, comprar uma casa ou passar em um concurso público, todos nós temos que ter uma meta em vista a todo o momento, e quando realizamos algo devemos sempre decidir qual será o novo desafio a ser conquistado, senão perecemos pela falta de atividade.
Também a falta de amor nos faz minguar aos poucos… A verdade é que somos animais que vivem em bando, e precisamos de afeto para seguir a vida, precisamos de um companheiro (a) para nos ajudar a enfrentar as dificuldades que sempre surgem no caminho. Assim, quando Megamente encontrou Roxanne, ele descobriu o maior propósito de todos, que é a parceria fundada no amor, que é o sentimento que nos sustenta mesmo nos períodos mais obscuros por que passamos. Este é o objetivo que nunca morre, que nunca chega ao fim… Ao contrário das metas materiais, como comprar um carro e aprender a dirigir. O amor é uma conquista diária, e mesmo que você esteja casado há anos com uma pessoa, pode acordar uma manhã, olhá-lo abrir os olhos e se encantar novamente com seu sorriso, como se fosse a primeira vez. O amor – o verdadeiro amor, aquele que é recíproco e que possui respeito e carinho – sempre se renova, e acaba nos renovando no processo.
Megamind, felizmente, descobriu este amor em Roxanne, naquele que se tornou o ship mais incrível dentre todas as animações. Ele nunca era o escolhido entre as crianças na escola, mas isso nada importa para o verdadeiro amor, que não repara nas feições da pessoa… Mesmo que você seja um etê azul com uma cabeça maior do que o normal. Com o amor de Roxanne, então, uma pessoa que não possuía autoestima pôde se reinventar, acreditar em si mesmo e no seu poder de fazer o bem, e conseguiu salvar Metro City. Como Xena já diria (olha a referência aí, gente!), é mais fácil acreditar em si mesmo quando outro alguém acredita primeiro.

Megamente nunca conheceu o amor, então como poderia amar a si mesmo? Ainda assim, apesar de sua infância traumática, ele ansiava por isso mais do que qualquer coisa, e bastou uma fagulha de bondade para acender o seu coração adormecido, fazendo-o melhorar a si mesmo para ficar com a moça que povoava os seus sonhos. E não, não é demérito nenhum se você precisa de um empurrãozinho para entender que pode ser mais do que as pessoas ruis o julgam, e também nunca é tarde demais para recomeçar, mesmo para um vilão consagrado como Megamente.
E é por isso que eu amo tanto o romance entre Roxanne e Megamente: ela viu algo nele que nem o próprio sabia que existia, acreditou nele quando ele próprio não acreditou, e ele pegou essa crença e fez o melhor que pôde para torná-la realidade. Gente, fala sério… Quão mais romântico um ship pode ser? Dez vezes prefiro um casal assim do que quando a mocinha já escolhe o mocinho óbvio, como, sei lá… Branca de Neve e Príncipe encantado de Once Upon a Time. Para mim, é muito melhor observar o crescimento dos personagens, seus entraves, e acompanhar as resistências internas da mocinha, ao invés de assistir a um romance enlatado em que todos os desafios são externos. Enfim, essa é apenas a minha opinião, agora quero saber a de vocês.
Antes de encerrar esta resenha, precisamos falar sobre outro personagem igualmente profundo, porém que acabou tomando atitudes muito distintas daquelas escolhidas por Megamente: estamos falando, é claro, do Titã. No universo infantil, ele é aquela criança mimada, que não sabe lidar com a frustração, que se atiraria no chão do supermercado porque os pais falaram que não tem dinheiro para comprar a sonhada bola. Em resumo, ele é um cara que não sabe receber um não. É interessante como o filme mostra o quanto isto é perigoso pois, dado poder a uma pessoa dessas, os estragos são catastróficos. Claro, no nosso mundinho pequeno, em que ninguém tem a chance de adquirir visão de raio lazer, ou de ter uma força descomunal, as consequências de tal temperamento não envolvem a destruição da cidade, mas ainda existem. Por um exemplo, se um menino cresce sem a consciência de que “não” é uma resposta válida, ele pode se tornar um homem que vai violentar uma mulher. Se uma menina cresce com esse tipo de mentalidade, ela pode se tornar uma gerente que vai aterrorizar os seus subordinados, fazendo-os perder a paz de espírito para cumprirem as metas desejadas.
Tudo isso mostra o quanto os personagens deste filme são profundos, psicologicamente falando, e o quanto eles têm a oferecer ao expectador – seja ele criança ou adulto. Sendo assim, vamos cuidar mais do que fazemos com as outras pessoas, vamos oferecer mais apoio àqueles que precisam e vamos amar mais, repudiar menos. Além disso, vamos cuidar também das nossas próprias atitudes, aceitando o “não” alheio e lidando melhor com nossas frustrações… Afinal, como Megamente mostra, não são apenas as crianças que precisam ser educadas. Assim eu encerro esta resenha, esperando que ela tenha sido proveitosa a todos. Como sempre, deixo um beijo e um queijo para vocês, e uma esperança de que possamos nos encontrar em outras resenhas que eu venha a escrever. Até a próxima!
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