Nosferatu - Crítica
- D. C. Blackwell
- 9 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Todo mundo conhece Nosferatu. Até mesmo quem não assistiu ao filme sabe do que se trata, reconhece a cena clássica do vampirão tostando com o brilho do sol entrando pela janela numa manhã em preto e branco. O mais irônico, no entanto, é que a obra não viu a luz do dia até muito recentemente, por motivos de direitos autorais, pois trata-se de uma adaptação do homônimo Drácula, romance de horror de Bram Stoker.
Sim, Nosferatu veio antes do Drácula de Bela Lugosi. Diretamente de 1922, o filme viajou no tempo contra sua própria vontade usando o título “A Duodécima Hora”, sendo restaurado em 2005 pela Cinémathèque Française, de Paris. Conta a história de Hutter, um jovem agente imobiliário que vai à Transilvânia para tratar da compra de um imóvel com o lorde Nosferatu – “Esta palavra não soa como o grito do Passaro da Morte à meia-noite?”, diz o letreiro do filme mudo, dando início à trama aterrorizante e misteriosa de nosso vilão.

Vamos direto ao ponto? Filmes mudos são muito difíceis de se assistir hoje, no geral, por estarmos tão acostumados ao dinamismo do cinema contemporâneo. Diálogos de fato aceleram o passo de uma narrativa e provém desenvolvimento e profundidade num nível e velocidade que um filme mudo teria extrema dificuldade em alcançar. Em Nosferatu, os diálogos são super curtos, porque ninguém quer ficar olhando para letreiros o tempo todo. Isso os torna um tanto especiais, no entanto. Afinal, Se é para falar pouco, que seja importante, e nesta obra, cada texto escrito é de suma importância, e isso se reflete numa das primeiras frases ditas por um personagem, enquanto Hutter corre para chegar ao trabalho:
“Não tão rápido, meu jovem amigo! Ninguém escapa de seu destino.”

Nota o impacto dessa frase? Bastante sombrio para um simples momento num dia qualquer da vida de um agente imobiliário, com certeza. Mas essa é a beleza do cinema mudo: cada palavra é fundamental para a compreensão e apreciação da trama e suas conclusões.
Outra beleza de Nosferatu é aquela que toca aos olhos. A fotografia é linda e usa de filtros coloridos para dar ainda mais intensidade a cada momento. Várias cenas são verdadeiros quadros, pintados com a lente de uma câmera e impressos em filme. Não obstante, as atuações são espetaculares. Imagine que você precisa demonstrar tudo o que pensa, expor diálogos e personalidades inteiras somente através da expressão corporal e facial. Pois isso é o cinema mudo, e em Nosferatu é simplesmente... Artístico!

Sobre a trama, embora o começo e alguns momentos no meio sejam estonteantemente parecidos com a obra de Stoker, diverge em pontos cruciais. Isso é bom, porque nota-se que a ideia do filme nunca foi copiar e colar, e sim inspirar-se e deixar a imaginação e a visão do diretor fluir. Isso nos encaminha para uma história única com um final estarrecedor que marcou o gênero do expressionismo alemão com a proposta: O quão monstro é o monstro que ama?
Enquanto o início e meio me lembram muito do conteúdo original, com a clássica viagem do agente imobiliário, o homem louco fascinado pelo vampiro que é estudado no hospício, e a cena específica da viagem de barco mencionada na obra de Stoker, na qual o capitão do navio, único tripulante ao permanecer no barco, amarra-se contra o mastro para chegar ao destino. Já o desfecho da lenda, as motivações do vampiro e até mesmo a compaixão de Ellen em relação a ele me lembram de outra adaptação cultivada com muito carinho na subcultura gótica: O Fantasma Da Ópera.
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