Oxigênio (2021) - CRÍTICA SEM SPOILERS
- D. C. Blackwell
- 19 de mai. de 2021
- 2 min de leitura
Não achei defeitos. Assistam. Pronto, tá aí a resenha!
Brincadeiras à parte, Oxigênio, do francês Alexandre Aja, supera seus antepassados do gênero de terror psicológico claustrofóbico, como Enterrado Vivo (2010) e Gravidade (2013). O longa combina nossa situação pandêmica global atual com elementos sci-fi e até distópicos que casam bem e pegam o espectador por onde dói mais. E isto não se refere apenas à questão da falta de oxigênio, como também dilemas morais e existenciais presentes na obra que, sinceramente, me surpreendeu muito além do esperado e me deu um frio na barriga e um nervosismo que eu não sentia havia anos.

Até mesmo os primeiros segundos do longa podem ser considerados um spoiler, visto que a abertura dele já é uma mensagem simbólica e, de certa forma, uma espécie de previsão sombria das revelações que serão feitas ao longo do caminho da paciente 236. E isso me leva a um dos pontos-chave que tornam esse filme tão interessante e assustador. A trama avança e retrocede no tempo conforme vamos descobrindo o que está de fato acontecendo, e durante esse processo ocorrem desinformações, alucinações e até mesmo enganações. E a forma como esses elementos chegam e se vão nos mantém num constante estado de alerta e confusão, sem sabermos ao certo o que devemos esperar. Até o último segundo, não fui capaz de decifrar se nossa protagonista viveria ou não, e a maneira como tudo acontece é extremamente humana. Em vários momentos me peguei pensando que nada mais poderia acontecer, que tudo estava desvendado, apenas para levar um bom tabefe metafórico pelos próximos quarenta, trinta, vinte, cinco minutos, ou seja, toda vez que ocorria uma reviravolta absolutamente inesperada.

E a trilha sonora, feita pelo também francês R.O.B, ou Robin Coudert, não fica para trás. Eu diria, inclusive, que uns 50 por cento desse filme estão expressos emocionalmente através da música, dando alma a todos os momentos importantes – sejam assustadores, emocionantes ou simplesmente tensos. Inclusive, aqui está outra pérola desse longa: diferentemente de outras mídias de horror, Oxigênio faz com que a gente se preocupe de verdade com a protagonista, e não apenas com as situações em que ela se encontra. Geralmente, em filmes assim, sentimos ansiedade e medo por causa das situações medonhas, e isso está certo, é assim mesmo. Mas em Oxigênio, há muito mais. A reconstrução fragmentada da personalidade de 236 que ocorre ao longo da trama faz com que não apenas fiquemos ansiosos, mas que também queiramos ativamente a sua salvação. Nós a vemos sofrer cada vez mais a cada novo empecilho, cada descoberta terrível, e entramos em desespero com ela, sentimos raiva com ela, choramos com ela... Queremos tanto que ela sobreviva, que não conseguimos desgrudar os olhos da tela da Netflix e não somos sequer capazes de julgar as decisões da nossa protagonista, porque sabemos que não faríamos nada diferente. Tudo isso se soma à maneira como a trilha vai nos tocando em cada momento. As emoções nesse filme são intensas, e vão de medo, terror, tristeza, a amor, vontade de viver, esperança.
Em resumo: este é o melhor filme já feito dentro de seu gênero, no nicho de terror claustrofóbico, e um dos melhores sci-fi da atualidade.
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