Psycho-Pass 2 - Crítica
- D. C. Blackwell
- 21 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
Bem-vindos à segunda temporada de Psycho-Pass e... CADÊ O MEU KOGAMI, DESGRAÇA?!
Pois é, gente. A segunda temporada, com apenas metade do tamanho da primeira, pula as diversas peculiaridades do mundo do Sistema Sybil para ir direto ao ponto, contando com a revelação do vilão já no segundo episódio da trama. E para a infelicidade geral, não há Kogami ou boa menção aos seus feitos ou os de Makishima. Não obstante, o que torna essa temporada tão especial é um grandessíssimo SPOILER, então fiquem atentos ao que vou escrever a seguir.
Tudo começou 15 anos atrás, quando outro sistema de segurança pública ameaçou a égide da Sybil. Esse sistema, quando foi colocado à prova, apresentou inúmeros defeitos, gerando diversas catástrofes, como quedas de avião e descarrilamentos de trens. Nós sabemos que a Sybil sempre fez de tudo para se manter no poder, então é claro que havia uma mãozinha cerebral coletiva mexendo uns pauzinhos, influenciando as pessoas certas, sabotando o projeto sem que ninguém suspeitasse. Num desses acidentes, um avião cheio de crianças caiu, causando a morte de quase todas elas, menos um: Kirito Kamui. Nessa mesma época, uma empresa praticava diversas experiências em pessoas, como a fabricação de indivíduos assintomáticos (psicopatas de nascensa in vitrio) e fusão de mentes. Kirito foi vítima dessa empresa, tendo as mentes de seus 184 colegas fundidas à sua e ficando “imune” ao sistema Sybil, uma vez que ele não era mais uma mente humana, mas um grande coletivo – praticamente um anti-Sybil.

What Color? Qual cor? Essa é a pergunta que Kamui deixa por onde passa, deixando um rastro de morte, terror e confusão em massa por onde passa. Seus intuitos, diferentemente de Makishima, que queria deliberadamente provar a todos que a Sybil era do mal e destruí-la, era bem mais simples – ou não. Qual era a cor do sistema Sybil? Se uma Dominator fosse apontada para essa entidade coletiva, qual seria seu coeficiente criminal? Será que a Sybil sequer poderia ser julgada por si mesma? O interessante desse questionamento é que já não se trata sobre destruir o sistema, que já está tão consolidado e enraizado naquela sociedade, que retirá-lo faria muito mais mal do que bem, e sim indagar-se como era que se poderia garantir que as decisões de Sybil fossem realmente as melhores para a população. Nada impede, afinal, de a Sybil mentir ou de simplesmente ser parcial em seus julgamentos, como foi provado durante a temporada, levando ao final inevitável da destruição de parte da Sybil que havia se mostrado corrupta e passível de punição máxima.
Outra questão interessante abordada nessa temporada é o uso de medicamentos que continham os impulsos mais violentos e caóticos das pessoas, eventualmente transformando-as em verdadeiros zumbis sem prazer por viver ou vontade própria. Será que, afinal, a natureza humana é caótica e violenta? Em algum ponto das nossas vidas, todos nós já cometemos um ato de violência, seja ferir outra pessoa ou pisar em uma barata – tanto faz, porque no fim, violência é, invariavelmente, um ato contra a vida e contra o bem-estar geral de qualquer coisa viva ou organismo coletivo, como uma sociedade. Sendo assim, considerando que a violência e o caos fazem parte do ser humano, como esperar que Sybil, um sistema que usa mentes humanas para processar informações e julgar indivíduos, fosse diferente? A premissa inicial era que todas as mentes na Sybil eram de pessoas que não eram capazes de agir parcialmente por sua incapacidade empática, afinal, são todos psicopatas. Porém, podemos ver nessa temporada que quando essas mentes se somam, elas não mantêm os mesmos valores e códigos de conduta que possuíam separados. Tornam-se uma nova entidade que não é a simples soma de suas partes, e sim algo novo. E esse algo novo acabou sendo passível de punição sob a mira da Dominator.

Buscar uma solução não violenta para trazer uma mudança significativa na sociedade é utópico, porque quanto maior a mudança, mais violenta ela é. Uma mudança gradativa pode ser facilmente mitigada e esquecida ao longo das eras, perdendo seu valor inicial e corrompendo mais ainda a sociedade. Por outro lado, que direito tem um indivíduo ou um coletivo de decidir quais violências serão aplicadas para atingir suas mudanças? Quem julga o juiz? A própria ideia de julgamento justo acaba se tornando paradoxal a partir do momento em que o juiz é um indivíduo com suas próprias opiniões, vivências, gostos e particularidades. A óptica do juiz nunca é imparcial, por mais que esta seja o reflexo de um grande coletivo – uma coisa não leva a outra. Então, quem dita o certo e o errado é um coletivo maior que, por sua vez, acaba por oprimir, mesmo sem intenção, o resto da população que julga as coisas de forma diferente. No fim de tudo, Kirito diz que um dia um juiz deverá ser capaz de guiar a Sybil na direção correta, mas até essa afirmação não é só utópica, como também é parcial. A justiça de Kirito não é melhor que a justiça de Sybil ou de Makishima, ou de absolutamente ninguém. Acaba que o questionamento final sempre será este: Sempre haverá violência, e alguém sempre irá justificá-la ou condená-la. De que lado você ficará?
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