The Stand (2020)
- D. C. Blackwell
- 25 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
A adaptação de A Dança Da Morte, de Stephen King, chega às telas tão fiel quanto pode – e até demais quando não poderia. Após ter 99% de sua população dizimada por um vírus mortal, a humanidade se vê dividida entre dois grupos: Um liderado por uma idosa de 109 anos que diz ser a porta-voz de Deus, chamada Abigail, e outro liderado pelo misterioso e sinistro Randall Flagg, um homem com poderes sobrenaturais cujo objetivo é reinar em tirania, luxúria e violência. Nossos protagonistas são pessoas recrutadas em sonho pela querida Abigail, interpretada pela magnífica Whoopie Goldberg, cuja missão é fazer resistência ao reinado de horrores de Flagg, interpretado por Alexander Skarsgard.
A série aposta num elenco de peso e que nada deixa a desejar em sua categoria, destacando-se nomes como James Marsden (Encantada), Ezra Miller (Precisamos Falar Sobre Kevin) e Amber Heard (Aquaman). A atuação na série é, sem dúvidas o ponto mais forte, junto do roteiro e seus diálogos maravilhosos. Cheguei a arrepiar quando Nick mandou um dedo do meio para o Flagg sem hesitar! Outro momento brilhantemente trabalhado, unindo trágico e cômico, é a conversa sobre The Rock: Será que ele poderia ter sobrevivido? Num tom irônico, somos deixados com esse sentimento de que todos os nossos códigos sociais, todos aqueles conceitos que a humanidade criou para elevar uns e diminuir outros, todas as normas sobre valores e sobre status, caíram por terra. Nada disso importa mais, e, se The Rock tivesse sobrevivido, provavelmente teria sido morto por alguém ou estaria na mesma que qualquer outro sobrevivente. Não só isso, mas tudo o que ele significa, o mundo como aceitávamos que fosse, não existe mais.

Quando os pilares da nossa sociedade caem, perde-se até mesmo o propósito das coisas: Ver aquela série ou jogar aquele jogo, trabalhar e pagar contas ou cobiçar aquela atriz famosa são todas coisas que já não fazem mais sentido. No fim, quando somos realmente libertos de todas as nossas amarras, acaba não sobrando muita coisa num primeiro momento. Cabe aos sobreviventes ressignificar a própria vida, e é por isso que pode ser tão tentador ir para o lado de Randall Flagg. Em New Vegas há luzes elétricas, música, sexo, dinheiro, entretenimento... todas as coisas que faziam sentido antes permanecem ali, naquele lugar que, ao mesmo tempo que é terrível e assustador, possui um certo charme, como um velho conhecido que é excluído das reuniões de família, mas a quem todos recorrem no momento do desespero. New Vegas e Boulder são os dois principais componentes da antiga sociedade, agora decantados e separados. Em Boulder, o outro lado da moeda pode ser visto na fé, no trabalho, na união e na esperança.
Vale notar que cada um dos cinco membros do conselho de Boulder representa uma das virtudes que compõem um grande líder aos olhos de King. Redman é a honra e o comprometimento com a verdade; Frannie é a compaixão e a preservação moral; Larry é o carisma e a empatia; Glen é a racionalidade e o instinto de sobrevivência; Nick é o altruísmo e a determinação inabalável.
Sobre Lauder, sua jornada é uma das mais interessantes. Sem perceber, ele foi um dos heróis da série, guiando as pessoas com suas sinalizações nas cidades e estradas. Sem ele, talvez Boulder não tivesse tido tanta sorte em ser repovoada, o que vai de encontro à sua parte na explosão que mata Nick Andros. Ele viveu sob a sombra da rejeição a vida inteira, e mesmo quando tudo indica que ele é importante, essa escuridão o domina e o cega, fazendo dele um servo de Flagg sem receber recompensa alguma por isso. Cheio de ódio, ele precisou estar à beira da morte para reconhecer seus erros, e mesmo em morte ele afirma, através de uma carta, que, embora se arrependesse, tinha plena consciência de que suas ações sua própria responsabilidade, e de mais ninguém. Se há um personagem complexo na série, este alguém é Harold Lauder. Não obstante, o personagem é super inspirado em seu criador, Stephen King, que tinha mesmo um prego na porta de seu quarto, onde realmente colecionava as rejeições das editoras.

Sobre o final, é quando a trama permanece fiel quando não deveria. O evento final é tão absurdo que muita gente precisou pesquisar na internet para entender. E a explicação é bem simples – e insuficiente: A Mão De Deus destrói tudo e explode New Vegas com um míssil nuclear porque SIM. Todos os nossos heróis, caras redimidos e determinados, que vão para lá provar sua fé cegamente, são mortos de uma maneira horrível sem nenhum tipo de recompensa. E pior, a parte boa que desvia um pouco do livro, quando Larry começa a dizer “não temerei mal algum” e faz as pessoas se voltarem contra Flagg, fazendo-o perder poder, é completamente invalidada pela maneira como as coisas acontecem logo depois. Todo mundo morre, mesmo quem estava se redimindo. O homem de preto foi destruído por Deus?! Por quê ele não fez isso antes? E por que matou todas as pessoas boas dali também? Nada me parece fazer muito sentido nesse episódio final. Não aceito e não engulo. Tampouco engulo no livro! Ai, ai, King... Por quê, ein?
Entre sentimentos conflitantes em relação à obra como um todo, ainda sou capaz de confirmar que não me arrependo de assistir. O final pode ter sido meio doido, mas o início e o meio foram muito prazerosos e intensos. Recomendo muito, especialmente para quem é fã do autor.
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