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Você precisa conhecer esse filme catarinense

  • Foto do escritor: Angers Moorse
    Angers Moorse
  • 5 de nov. de 2020
  • 6 min de leitura


Salve, salve, galera! Para quem não está a par das notícias, comemoramos neste dia 5 de novembro o Dia do Cinema Brasileiro. E nada melhor que falar de filmes nacionais que marcaram seu nome e ganharam respeito de crítica e público.


Muitos de nós, brasileiros, sofremos um pouco da famosa “síndrome de vira-lata”. Vangloriamos tudo o que vem de fora e, na maioria das vezes, deixamos passar (sem querer ou intencionalmente) filmes feitos em nosso país que não devem em nada aos blockbusters gringos.


E, como eu disse na semana passada, vou “puxar o siri para o nosso mangue” e falar de um filme 100% catarinense que chamou à atenção crítica e público nacional e internacional. Estou falando do filme A Antropóloga, filmado em 2010 e lançado em 2011.


Assim que ele foi lançado nos cinemas, fui com a minha esposa e assistimos ao filme. E saí maravilhado da sala do cinema! Pensa em um filme lindo, muito bem produzido, com roteiro muito bem trabalhado, elenco que mandou super bem, trilha sonora de qualidade e um clima sombrio e repleto de suspense… tenho o maior orgulho desse filme!


Para quem não conhece a história, o filme é baseado no artigo “Bruxas Gêmeas”, presente no livro O Fantástico na Ilha de Santa Catarina (volume II – Editora da UFSC), escrito pelo pesquisador e artista plástico Franklin Cascaes (1908-1983), que é um dos maiores símbolos culturais de Santa Catarina.


A trama gira em torno da personagem Manu (interpretada por Larissa Bracher), uma etnobotânica açoriana que visita a Ilha de Santa Catarina para efetuar pesquisas com ervas medicinais usadas por benzedeira e curandeiras da região. Contudo, ao conhecer Dona Ritinha, acaba por conhecer a lenda da Sétima Irmã que, por algum motivo, deixou de ser batizada, gerando severas consequências futuras.


Entre possessões bucólicas, a morte misteriosa de uma criança, visões misteriosas, vultos sinistros e uma série de acontecimentos inexplicáveis que desafiam seu ceticismo, Manu conta com a ajuda de algumas pessoas para desvendar o mistério e acaba entrando em uma jornada de autoconhecimento na qual ela jamais imaginara embarcar (sem mais spoilers sobre a trama).



Entre os dias 1 de setembro e 15 de outubro de 2010, a pacata e amável Costa da Lagoa transformou-se em um verdadeiro estúdio de gravação. A equipe de produção teve bastante trabalho para realizar as filmagens por causa de acontecimentos misteriosos e inesperados.


Segundo o diretor Zeca Nunes Pires, chuvas imprevisíveis, ventanias nunca vistas antes, tempestades e acontecimentos climáticos inexplicáveis acabavam por interromper as gravações de várias cenas, o que fazia com que se levasse muito mais tempo para concluir os trabalhos. Mas, como ele mesmo fala, as filmagens estavam acontecendo em um local misterioso e eles respeitavam muito isso.


Falar do filme sem falar dos cenários e fotografia é inadmissível. Santa Catarina é, sem medo de errar, o estado brasileiro mais bonito em termos de paisagens. Passando por praias, manguezais, cachoeiras, grutas, penhascos, montanhas e outros lugares de tirar o fôlego, é impossível não se apaixonar por nossas belezas naturais.


E Florianópolis tem uma carta na manga. Ela esconde muitos mistérios e lugares ainda intocados pelo progresso, que emanam toda uma mística e mistério no ar. E, ainda, cercada por muitas lendas e contos envolvendo bruxas e criaturas míticas. Não à toa que é chamada de Ilha da Magia!


A própria Costa da Lagoa é um dos últimos redutos ecológicos da ilha e um dos lugares mais procurados por especialistas em botânica e ecologia. Casas em estilo açoriano, barcos, mata nativa, engenho de farinha, ervas e cipós criam uma atmosfera única. Além disso, a região é muito rica em peixes e serve como uma espécie de referência natural sobre o clima, como os fortes ventos, a calmaria e a presença de chuva. Enfim, um lugar de tirar o fôlego!


Mas voltemos ao filme. Algumas das cenas iniciais foram gravadas no Ilha do Pico no Arquipélago dos Açores e já nos arrancam aqueles primeiros suspiros empolgados. As cenas na praia com o sol e o mar calmo trazem uma sensação de alegria e maravilhamento… mas elas servem, principalmente, para recarregar nossas baterias antes de nos jogar em uma atmosfera densa, escura e sombria.


Por ser filmado em 90% do tempo durante o inverno, a escolha da iluminação foi outra jogada de mestre. Nas cenas durante o dia, vemos a presença da claridade mesclada a tons mais sombrios e, durante a noite, a predominância da escuridão com contrapontos estratégicos de focos de luz. Há, aqui, perfeita harmonia entre trevas e luz, o que reforça ainda mais o ambiente sedutor e envolvente da história.


O elenco principal do filme é formado por Jackie Sperandio (esposa de Adriano), Luige Cútulo (Adriano), Rafaela Rocha de Barcelos (a menina Carolina), Sandra Ouriques (Dona Ritinha), Severo Cruz (velho Delano), Eduardo Bolina (Pedro), Paula Petrella (esposa de Pedro), Ricardo Von Busse (Jair), Antonella Batista (Lilá), Édio Nunes (motorista de táxi) e o trio gótico Pan (Pedro Paulo Pitta), Rainha Diana (Fernanda Marcondes) e Silvanus (Aline Maciel).


Sobre o elenco, o que posso dizer é que ele é fantástico! Com atores conhecidos e desconhecidos e sem nenhum figurão da teledramaturgia e audiovisual nacional, a sinergia entre os personagens vai nos conduzindo de forma natural e amável, sem forçar nenhum tipo de situação. O trio de jovens bruxas acaba soando como o alívio cômico do filme (e muito bem construído, por sinal).



E a protagonista é maravilhosa! Conseguiu trazer bastante suspense, terror e todas aquelas sensações tensas e apavorantes durante as cenas, construindo uma personagem pela qual você se apaixona logo de cara. Visualmente, lembrou-me um pouco a atriz Hilary Swank (não sei se foi só impressão minha).


Sobre o roteiro, nota 1000! Soube explorar muito bem o universo criativo de Franklin Cascaes, a cultura açoriana e o universo místico e bruxo que o cerca. Trouxe elementos muito interessantes e que se encaixaram perfeitamente nos momentos certos. Há vezes em que o roteiro traz muita coisa boa, mas que é mal encaixada ou aproveitada e acaba desperdiçando muito potencial criativo… e isso não é o caso aqui.


A cada nova cena, nova descoberta e novo mistério, mais e mais nossa atenção vai sendo captada e nosso coração vai palpitando mais forte. Ah, e se você acha que os sustos não estão presentes, engana-se redondamente. Prepare-se para dar pulos da cadeira e jogar a pipoca para fora do balde em alguns momentos (e bem inesperados, por sinal).


Muito desse clima imersivo e profundo deve-se à trilha sonora, sob a responsabilidade de Sílvia Beraldo. Passando pelo fado e os sons naturais do local e navegando por arranjos voluptuosos e densos, cada nota encaixa-se perfeitamente à cena, conduzindo o espectador a uma viagem extasiante e praticamente hipnótica… é surreal como as coisas mais simples conseguem ser tão complexas e maravilhosas!


Figurino e maquiagem também não deixam a desejar. Embora o filme não exija nada tão sofisticado e rebuscado, os elementos principais estão ali presentes e muito bem construídos. Muitas vezes, não é necessário criar produções tão rebuscadas para se alcançar os melhores objetivos. Mais uma vez, o simples é a coisa mais complexa e tecnicamente agradável a ser feita e vista.


O filme ficou entre os 15 finalistas para representar o Brasil na edição do Oscar 2012, na categoria Melhor Filme Estrangeiro, mas acabou ficando na segunda colocação, atrás de Tropa de Elite 2 (que também foi eliminado da disputa pela estatueta ainda na fase preliminar da premiação).


Contudo, teve grande repercussão internacional em países como Espanha, Portugal e no Mercosul. Aliás, A Antropóloga foi um dos filmes brasileiros mais aclamados pela crítica portuguesa, sendo convidado para festivais de cinema importantíssimos no país.


Embora tenha sofrido algumas críticas negativas e não tenha obtido tanta visibilidade (ou quase nenhuma, o que é extremamente triste), quem assistiu ao filme com coração e mente abertos teve uma das melhores experiências audiovisuais dos últimos anos. É como eu sempre digo: quem não consegue se encantar com um filme assim tem uma pedra no lugar do coração (mas gosto é gosto e cada um tem o seu, respeito isso).


Em resumo, sabe aquele filme ao qual você assiste sem muitas expectativas iniciais e sai da sala do cinema com aquela sensação de “se eu não tivesse visto, teria sido a maior experiência audiovisual que eu teria perdido na vida”? Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu comigo!


Defenderei esse filme até os últimos dias da minha vida, pois, além de ser uma belíssima obra com produção quase que impecável, é um filme nacional e, para colocar mais um tempero especial à receita, é aqui de Santa Catarina… e de Florianópolis!


O filme é um tapa na cara àqueles que dizem que o cinema nacional não presta. E, para mim, a prova cabal do famoso mantra, que diz “quem bebe dessa água, não sai nunca mais daqui”. Definitivamente, A Antropóloga e as bruxas açorianas conquistaram a alma e o coração deste aventureiro que vos escreve!

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