Porque na Espanha também há bruxas - Vozes
- D. C. Blackwell
- 21 de jan. de 2021
- 3 min de leitura
Vozes, de Ángel Gómez Hernández, é a versão espanhola da velha - porém gostosa - história de bruxas numa casa amaldiçoada. Desde seu início abrupto ao final engenhoso e trágico, o longa independente espanhol veio para tripudiar sobre os filmes de terror estadunidenses, mostrando que a Espanha também tem suas histórias para contar e que sabem fazê-lo.
Sabe-se que filmes como este são como areia no deserto e que não se pode ser muito exigente quanto a originalidade do roteiro, que se assemelha a muitos outros filmes do gênero. Entretanto, Vozes compensa muito na maneira como desenvolve o enredo e nos mantém tensos - o que significa muito para filmes de bruxa neste formato em pleno 2021.

Os personagens são excepcionalmente bem construídos - desde o protagonista aos coadjuvantes -, considerando o tempo que o filme cede para desenvolvê-los, e os diálogos são simples, porém interessantes e realistas. As reações de cada um são completamente humanas, o que torna tudo mais intenso e nos deixa ainda mais nervosos diante do perigo claro e iminente que se apresenta diversas vezes ao longo da trama. As vozes, ponto central do mistério da trama, enganam espectador e personagem, deixando-nos à mercê do diretor e suas artimanhas macabras.
O longa peca em dois aspectos: primeiro, retrocede como roteiro ao retornar à velha história de bruxas de sempre, colocando mulheres inocentes brutalmente torturadas e mortas ao longo da história (tanto na Inquisição Espanhola quanto no resto do mundo) como fonte do Mal ao invés de atualizar-se e aproveitar o tópico para trazer algo novo neste sentido, como fizeram em A Autópsia. O segundo ponto é aquele que me incomoda em absolutamente todos os filmes deste gênero, que é a maldita da explicação aleatória. Cara, eu não preciso que um figurante venha me contar o óbvio, todo mundo sabe que se tem espírito de mulher em trapos, casa antiga e gatos mortos, é bruxa na certa. A explicação exagerada é desnecessária, até porque o próprio final do longa ruma em direção a todas as informações que precisamos sem auxílio de infodump.

SPOILER À FRENTE! FIQUEM AVISADOS.
Devo explicitar aqui o SUSTO que tomei quando a esposa do Daniel invade o quarto pela janela. Meu Jesus do céu, afasta de mim esse cálice… E outra, bem feito pra ela, que ficou brincando de pega-pega com o espírito vingativo. Mano, na primeira agachada, vendo os pés da bruxa, eu já teria mudado de país. Corajoso foi o velho, que encarou o covenant inteiro, temperou e assou a bruxa sozinho e ainda sobreviveu a uma facada. Que lenda!
Sobre a morte do Daniel, fiquei em choque. Pela primeira vez este tipo de filme me surpreendeu! A bruxa tinha tudo planejado, inclusive a própria morte, levando ao trágico suicídio de Daniel. Haja maldade, bicho…
Houve até uma suave transição de protagonista no filme, algo que eu amei completamente. No fim, é o escritor e sua filha que aprendem algo com tudo aquilo e saem renovados, e isso é fantástico porque a vida é assim: nossas histórias se misturam, se somam e, eventualmente, se desencontram, e quando isso é bem representado num filme, é sempre bonito e real. Dito isso, espero ver mais filmes com essa pegada espanhola e torço para que essa equipe maravilhosa de Vozes faça muito sucesso em seus próximos projetos.
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